vão

Depois de uma carta, mundos se unem — ou não. Um vão se espalha dentro do peito. Algum suspeito espreita uma saída por portas entreabertas. Era uma passagem estreita. Vezes teias, vezes queda livre. E todas as recordações formam alguma luz em partícula. Tem-se medo. Perto demais e longe de tudo. É o puro sentimento de angústia. Ferrões de todos os lados que lhe causam alguma dor. Pergunta-se mais depois de tanto tempo. Antes de tudo acabar em desuso. E as palavras, antes improvocáveis, surpreende. Entre todas as desordens e esperanças. Era uma passagem estreita. Vezes presas, vezes suspensão. E todas as formas não são mais matrizes. Tudo entrou em desuso: palavra, carta, chão de rascunhos. Um vão se estende por todo o corpo, toma a sua forma e depois lhe atrai para algum manifesto de dúvida. E salta tantas vezes. Embaralha os pensamentos e faz tudo levitar em retorno. Pouco tempo para o passado. E passa diante dos olhos: os ponteiros, a sombra ampliada dos objetos sobre a mesa, a certeza da insônia, alguma fome, o que é contínuo para o amanhã, a manhã de mais um dia. Agora transborda na pele, esse vão. Um culpado espreita sorte, e não a vê porque não depositou qualquer fé. Renascem métodos, resultados e conclusões. Há uma extensão de tudo. Há uma outra enunciação selvagem e própria. Há portas entreabertas. Há, no sentido de existir. E só.

Quaresma
Enviado por Quaresma em 21/02/2006
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