Trêmulas

Experimentei uma sensação no mínimo estranha, diferente. A madrugada inteira acordada, quase sete horas da manhã, fumando o primeiro cigarro; o coração acelerado não se sabe por que motivo. Talvez o nervosismo ante o que deveria ser mais um dia de existência. Era muito parecido com tranqüilidade. Me cansa olhar pela janela. O que há por mim? Coração, não tens motivo para agitar-se tanto. Por que tremes, fremente, se o dia é tão morto! Uma tentativa infeliz, certamente. Será que morro, ou apenas enlouqueço? Náusea. Devo vomitar minhas lágrimas. Tão secas. Entorpecida. Torpe. Talvez um poema concreto razoável. Turbilhão. Em constante inmovimento. Em inconstante movimento. Por que tudo é tão assim? É certo que preciso escrever, matar-me interiormente. Não posso deixar que aconteça. Deixe minhas mãos frias, um tanto quanto trêmulas, frêmitos inúteis. Mata-te, é melhor para todos eles. Não mordo meus lábios até sair sangue. Tenho medo da dor. Quem não tem? Quando a morte implica dor escrevem-se coisas indizíveis. Falta muito, é muito longe, e eu me sinto cansada. E magra. Por que não deixa os pensamentos se perderem por eles mesmos? Acho que vou vomitar, mas a distância é muito inalcançável É devastador. Devasta a dor. Irrepreensível. Até posso atingir-me a mim mesma, mas não posso tocá-las, as estrelas... E me fecho. Talvez atormentada eu ouse poder ser livre, finalmente incompreendida. Insânia. É preferível ser sério a sem-consciência. Um disparate, certamente. A expressão sonhadora e melancólica a um só temível tempo. Eu devia estar fazendo algo de bom. A queda deve ser reta, sem estripulias. Sou confinada a isto. Cheiro de queimado.

Alexandre
Enviado por Alexandre em 24/08/2008
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