"E, de manhã..."
Meu gatinho,
olha só, vou apenas lhe pedir que não me acorde cedo amanhã e que também não levante logo. Apenas se for para ir fazer nosso café, um do tipo que perfume toda a casa e venha acompanhado de ovo quente, torradas, papaia, geléia e queijo. Ah, não esqueça o beijo... Tenho fome de manhã. Sempre tive. Porque será? E se, enquanto o faz, você esquecer no seu criado mudo, bem visível, um pedacinho de chocolate, vou te amar para sempre e mais um dia...
Vista sua bermuda, aquela que detesto (mas aceito), como se fosse sábado e me ofereça o dia - seja ele qual dia da semana for. Vamos passear felizes e sem destino, viu?
Bem... mas antes... antes... toque-me. Toque-me outra vez à luz da manhã, toque-me sob essa luz diferente, sem se importar com o desalinho de meus cabelos e que haja olheiras sob meus olhos, devido à noite anterior. Não repare que a roupa, o que sobrou dela, esteja amassada e o perfume tenha, afinal, evaporado. Que o cheiro seja agora apenas o meu de fato. Faça-me sorrir, tremer, gelar, esquentar, vibrar. Cante algo baixinho em meu ouvido e sussurre pequenas e doces bobagens.
Me chame de princesa ou de doce menina, não importa. Mas, de minha mulher, com certeza, e algo mais... talvez. E também diga que sou única. Sempre. Sua flor. Sua bela. Sua rainha. Faça com que, por esse momento, a vida tenha valido um tanto mais a pena. Faça-se eterno no tempo, no espaço - e em mim.
Porque eu o amo assim: de noite um lorde pleno, um príncipe de vários reinos, de acordo com as nossas fantasias ... e de manhã, um homem/menino capaz de fazer nosso delicioso café, de me achar bela mesmo com tanta claridade vinda da janela - e de vestir uma bermuda impossivelmente amarela!
Silvia Regina Costa Lima
21 de agosto de 2008