O QUE SOMOS?

Quando eu passei minha primeira noite sem a luz acesa, tive medo que hordas fantasmagóricas me atacassem.

A noite foi longa, o medo foi intenso, mas o dia nasceu e nenhum fantasma apareceu.

Cresci um pouco mais e os fantasmas deram lugar às inseguranças nas transições. Tive medo de sofrer e sofri, tive medo de ser rejeitado e fui muitas vezes, tive medo de me ferir e acabei ferido, tive medo de perder e provei muitas vezes o sabor do fracasso.

Mas, apesar de tudo isso, também experimentei o oposto e sobrevivi aos meus temores.

Vieram amigos que mais tarde preferiram a ruptura, surgiram sonhos que fugiram de mim antes mesmo que a realidade lhes alcançasse, muitos castelos viraram ruínas, muitas lágrimas regaram minha face e muitas decepções espancaram minha esperançosa alma.

Também cheguei a não reconhecer quem era. Algumas vezes fui desleal, julguei maior proveito na mentira, ultrapassei limites éticos, priorizei a própria carne em detrimento do espírito alheio e fui pior do que seria minha própria caricatura. Páginas que eu queria apagar, mas que a consciência não me permite, pra que eu não aprenda a lhes reescrever.

Por isso, entre os primeiros passos e os fios de cabelo branco tudo que fica são exemplos e aprendizados. Nosso melhor jamais nos fará superiores e nosso pior não nos reduz à nulidade. Somos a sombra da luz que nos permitimos, somos a história que queremos contar ao destino, somos o verbo que a autocrítica conjuga, somos a máscara da franqueza possível e a inverdade que a sinceridade tolera.

Somos asas ou somos raiz e em qualquer das opções teremos lágrimas e sorrisos. Só não podemos ser insignificantes, porque só os medíocres nasceram com essa vocação!