D´outro Lado

Achava que o espelho agora era opaco

Que eram mudas as camélias e amargo o vinho doce

Achava que os segundos evadiam lembranças, e que as lembranças evadiam-se no mundo, profundo temor que a inspiração não cansava de ter.

Pensava que era velho o cansaço e embriagado o engodo que tanto enganou o engano

Amava morta, fingia seca e dormia sem dormir

Pintava cria, comia mato e fechava tudo que aberto fosse ali

Contava horas, corria o tempo, achava achado e se perdia em pensamento

Colava os cacos, botava a mesa e quebrava-se em migalhas velhas querendo deixar de sentir

À noite, deixou.

Esquentou o café e fingiu que morto tinha sido o sorriso do espelho teimoso que esquecia de sorrir.

Ie
Enviado por Ie em 19/08/2008
Código do texto: T1134947
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