D´outro Lado
Achava que o espelho agora era opaco
Que eram mudas as camélias e amargo o vinho doce
Achava que os segundos evadiam lembranças, e que as lembranças evadiam-se no mundo, profundo temor que a inspiração não cansava de ter.
Pensava que era velho o cansaço e embriagado o engodo que tanto enganou o engano
Amava morta, fingia seca e dormia sem dormir
Pintava cria, comia mato e fechava tudo que aberto fosse ali
Contava horas, corria o tempo, achava achado e se perdia em pensamento
Colava os cacos, botava a mesa e quebrava-se em migalhas velhas querendo deixar de sentir
À noite, deixou.
Esquentou o café e fingiu que morto tinha sido o sorriso do espelho teimoso que esquecia de sorrir.