DIAS DE VERÃO

Da janela da minha Primavera, em tarde de Domingo lascivo, vi-o chegar. Assim, de longe, como quem vislumbra um craveiro vermelho em fase de botão e matizes quentes, debruçado numa sacada. Vi-o e julgo que ele também me viu, no mesmo instante, no mesmo encanto. A tarde declinou versos de namoro de olhares, entre o lusco e o fusco, e a noite trouxe sonhos de amor prometido... Terra prometida, pedaço fértil, estio de ardências em são amadurecimento...

Dias vieram trazidos pela mão por ilusões cor-de-rosa. E um jardim brotou, em uníssono, dentro de nós... e cada dia havia uma flor nova, um perfume novo, um canto de pássaro feliz que me lembrava a sua chegada. E eu estava completamente nele, e ele em mim... E quando abraçávamos os olhares, mesmo, mesmo, de longe, de janela a janela, a música que ele punha a tocar para mim, sabia o destino de cor e dançava para nós, de coração colado... E as pedras sábias da calçada, a paisagem tocada pela indolência da sesta, a brisa vadia, se deixavam embriagar pela fragrância adocicada que rescendia de nós...

Chegaste e trouxeste trémulas manhãs de orvalhos e meios-dias de emoção e suores. Rubores de malícias novas e enleios de inocências puras. Compassos de coração à flor de sensibilidades desconhecidas, e vontades de frutos maduros...

Chegaste e trouxeste brilhos de ouro novo e sons de rouxinol aprendiz... E toda eu fui flor de pétalas em botão mal apertado, na pressa de desabrochar...

...E foi o Verão mais quente, mais doce, mais luminoso e perfumado de toda uma Vida...