A Impaciência dos Vidros

A casa ergue-se e a casa ergue-se a partir de colunas verticiladas vindas da terra, fixas à dureza da pedra, a casa desenhada como o lugar alterado pela presença desse material sólido, um objecto é um objecto que ocupa um lugar como este para nele habitarem outros objectos, presenças e personagens, deles sabemos apenas que se movem no espaço indefinível: as ondulações,

a casa reflecte-se ao longe – talvez seja ao longe, sem aspereza na orla das imagens -, uma forma recortada no fundo de um corredor aberto, talvez azul pelo fim da tarde ou pálido ou branco ou ainda branco pelo início da manhã, mas o tempo imprimi-lhe as múltiplas (as que conhecemos) tonalidades lisas e frágeis, opacas, diluídas, entrecortadas cores na luminescência exterior - deslizam lentamente pelas sombras efémeras ( efémeras e podia dizer ágeis) se vacilam penetrando os dias imensos do olhar,

a casa e não podemos saber muito mais porque não lhe fixamos em definitivo nenhuma identidade, não reconhecemos uma linha íntima que esclareça as dúvidas, deixamos percorrer esse vulto erguido sem direcção, nós em direcção com os dedos abertos a todos os mosaicos de uma emoção premente, de uma contingência histórica, económica, social e indetermináveis paisagens fruídas – como quem tece as horas da noite quando amar,

num tear para marginar os tais vultos consumidos no poente, esse mosaico que digo íntegro num rasgo subtil, o ouvido encostado ao som do ar, a câmara do torpor dos símbolos – habitar (sempre habitar) por aí no teu corpo banhado pelo meu corpo líquido, a relva descendo pelo mar até à garganta ou o mar fervendo nas veias entreabertas. Escrevo nas paredes onde os desenhos são inteligíveis, é do desejo que a alma das janelas se abre, a impaciência dos vidros onde o que em nós podia morrer permanece, mesmo que nos arredores,

em recantos, evanescentes árvores, outras plantas ou bucólicas folhas hão-de fenecer – dirão os românticos.