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Ela meio que sempre foi ‘a’ mulher, mesmo que ele não soubesse ao certo as razões para isso. Ele não é do tipo que procura muitas respostas, nem faz o gênero de quem pergunta demais. Ela era assim e pronto.

Em algum ponto da conversa ele teve então suas respostas e nem é direito perguntar como, onde e quando, se mais compensa viver um sentimento. Basta dizer que agora o seu samba tem razão e tem refrão, e que ele se apaixonou por ela – o que, sinceramente, não teria como ser diferente.

Ela era mais do que um jogo de conversas na madrugada, de cartas marcadas, de curingas nas mangas, mais que um jogo sem regras. Sem palavras, o jogo dos olhares e sorrisos se perdiam entre os monitores, os quais entregariam seus donos na primeira carta à mesa. Ela era então um desafio - e ele gostava deles, principalmente aqueles em que se põe tudo a perder ou se ganha a banca.

Ela era assim e pronto! E ainda era uma incógnita. Ele tinha suas inseguranças e receios. Ela, seus sorrisos e uma simpatia onde ele se perdia – e se permitia se perder. Ele falava apressado, envergonhado, gesticulando bastante (e depois se perguntava a razão disso), tentando fazê-la sorrir e se perdia no meio de alguns medos tão bobos que não existiam razões de ser.

Existiu então um momento em que não tinha mais opção: ele tinha que se entregar, se permitir – se calar ou inovar, se perder ou se render, desafiar e conquistar. Hoje ele não vê como poderia ser diferente. A prosa da madrugada se fez poesia – da noite, do dia, de qualquer momento e qualquer silêncio.

Hoje eles sambam a dois, sem ritmo, sem jeito, com razão e com emoção. Ele é clichê, piegas e algumas músicas têm novos significados para ele agora – em momentos que ele gosta de lembrar na hora de dormir. Ela? Ela é a mulher, não teria como ser diferente.

Lucas Sidrim
Enviado por Lucas Sidrim em 14/08/2008
Reeditado em 14/08/2008
Código do texto: T1128598