a mesma chuva

Com vontade de ir ao cinema, comer amendoim quente e drops, desço a ladeira rápido para fugir da chuva que anuncia o equinócio. Acho abrigo numa marquise, pensamentos volvem, volvem e voltam para você, no impossível que seria sua presença neste momento, claro, não fosse a imprevisibilidade do impossível que a chuva traz quando faz o chão ficar com cheiro molhado de terra da infância. Época em que eu voltava do colégio montada em minha bicicleta monarque marrom enferrujada, daquelas que dobravam no meio, lembra? E vinha correndo com meus sapatinho plástico de colegial para fugir dessa mesma chuva. Será a mesma chuva? Pique para dar tempo de chegar em casa rápido só para admirar a água transbordando em baixo do portão de madeira e molhando o mormaço do chão quente do quintal. Sonhar com o impossível futuro que me aguardava e era tão próximo, e não sabia que seria tão rápido o futuro assim, e que me traria solidão e saudade de volta na mesma rua, na mesma calçada e que faria ressuscitar o mesmo sentimento infantil num dia de chuva, pensando em como seria bom estar com você se pudesse, se não fosse tão impossível. E se aquele antes impossível não fosse só fantasia de outono. Aqui fiquei olhando e pensando em tantas possibilidades e impossibilidades e a chuva aumentando, aumentando. Será a mesma chuva?

Jan Morais
Enviado por Jan Morais em 15/02/2006
Reeditado em 18/07/2006
Código do texto: T112270