A EQUILIBRISTA DE SANTA TEREZA

Lá ia ela... pendurada no bondinho, feliz da vida por realizar aquele sonho de menina-moleca durante aquele ano em que morou em Santa Tereza... Na verdade, já não era menina fazia um bom tempo, mas a molecagem estava lá incrustada... disso ela não abriria mão...

Fazia o corpo mole para aproveitar o range-range daquela engrenagem colorida, como se dela fizesse parte... Ignorava olhares-rastilho dos homens e o desdém das mulheres...Exibia-se especialmente para as crianças... como uma artífice dos pequenos prazeres...

Sabia de cor as curvas mais estreitas em que podia passar a mão pelas folhas das amendoeiras... a despeito do olhar de desaprovação do cobrador...

Exímia equilibrista de estribo - ou simplesmente "pongada" - como intitulava-se - dava-se a prerrogativa de jamais pagar passagem...

Aos colegas - um tanto incrédulos - gabava-se de dizer que ia para o trabalho todos os dias pendurada do lado de fora do bonde admirando o Rio de Janeiro, do alto dos Arcos da Lapa...

Mudou-se de lá há algum tempo... Soube que hoje vive de escrever poesias que lhe servem de estribos para maiores viagens...

Belinda Tiengo
Enviado por Belinda Tiengo em 10/08/2008
Reeditado em 19/08/2008
Código do texto: T1122138
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