Quem não se lembra daquela cena emblemática do filme do Stanley Kubrick, Dois mil e um - uma odisséia no espaço, na qual um macaco descobre que pode usar um osso como ferramenta ou arma. Neste exato momento, numa explosão de endorfina, como se gritasse yés, yés, ele atira o osso para o alto. Maravilhosamente, Stanley K. o transforma em uma nave espacial. Uma síntese da longa viagem do homem em busca do conhecimento. Neste intervalo de tempo, em torno de centenas de milhares de anos, houve diversos momentos em que avançamos de forma mais marcante nas diferentes áreas do conhecimento, como, por exemplo, no período áureo dos gregos, na renascença, e particularmente nos últimos três séculos. Além da expectativa de progresso material, os avanços científicos e tecnológicos, bem como das ciências sociais, estiveram sempre ligados a uma forte esperança de felicidade interior e de maior entendimento entre os homens. Vivemos hoje, de novo, um salto no conhecimento, em todos os campos. Avanços jamais imaginados pelos grandes cientistas do passado como a clonagem humana, a capacidade de criar a vida, podemos transplantar rostos e prolongar a vida. E as viagens espaciais e os poderosos telescópios expandindo cada vez mais a nossa visão do universo, desafiando as crenças. O que dizer então das comunicações? Tornamos-nos onipresentes dada a grande conectividade e as tecnologias de convergência. Produzimos informações como nunca, e todos nós podemos ter acesso imediato a elas. O conhecimento marcha aceleradamente, Dominamos em terra, no mar e nas diferentes bandas do espaço. Infelizmente de novo percebemos que todo este avanço não está trazendo a felicidade com que sonhamos, nem paz espiritual. Pelo contrário continuamos intolerantes, violentos; continuamos a cultivar o ódio, o egoísmo. A arte de ouvir verdadeiramente o outro é muito pouco praticada. Estamos devastando a natureza, acreditando que somos os únicos filhos de Deus e que por isso somos donos do planeta. Estamos sim nos tornando cada vez mais tristes.
Sentimentos de frustrações, solidão e tristeza tão bem expressos neste poema de T. S. Eliot.
Paira a águia no alto do céu,
O caçador e a matilha completam seu circulo.
Oh, revolução incessante de configuradas estrelas!
Oh, perpétuo curso de estações determinadas!
Oh, mundo de estio e de outono,
de morte e nascimento!
O infinito ciclo das idéias e dos atos,
Infinita invenção, experimento infinito,
Traz conhecimento da mobilidade, mas não da quietude;
Conhecimento da fala, mas não do silêncio;
Conhecimento das palavras e da ignorância da palavra.
Todo conhecimento aproxima-nos da morte,
Mas a proximidade da morte não nos aproxima de Deus.
Onde está a vida que perdemos em viver?
Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?
Onde está o conhecimento que perdemos em informação?
Os ciclos celestiais em vinte séculos
Afastam-nos de Deus e aproxima-nos do pó.
O primeiro coro de A Rocha.
T.S.Eliot