Você

Você não tem nada, e a sua vida é uma grande interrogação.

Você passa as noites em claro, apenas imaginando qual seria o gosto do amor. Você se sente sufocado, e quando todos os seus amigos vão embora você vê que é um desgraçado e que não há ninguém ao teu lado. O silêncio da madrugada te perturba.

Você sai, mas nem sabe mais para onde seus pés viciados o levam. Você bebe, você fuma, você tenta esquecer que sua vida é uma merda e cai no seu próprio jogo. Ilude-se tanto que passa a crer que é livre, mas as grades de sua gaiola são transparentes e nem você nem os que te cercam conseguem vê-las.

Você tenta seguir me frente e segue, mas não tem certeza do seu caminho. Prefere não pensar sobre isso. Prefere esquecer seus problemas cotidianos e espairecer, então abre a janela de sua casa e respira fundo o ar contaminado de nossas ruas cinzentas. Por incrível que pareça, você acha isso bom. “Pelo menos é uma brisa”, pensa.

Você acende mais um cigarro, é o décimo do dia. “Meio maço, droga”. Senta-se em frente à porta dos céus e imagina em que lugar do mundo está aquele que poderia mudar sua vida. Desiste de pensar, e então começa a brincar com o cinzeiro repleto de sonhos perdidos.

Mais um cigarro, mais um pensamento que vagueia e acaba na fumaça que se perde cômodo afora.