TODOS OS DIAS
(dias de uma prostituta)
Evaldo da Veiga
Na rua, muita gente passando,
e você, permanece só, isolada,
não pertence à multidão.
Te olham: alguns, insistentemente;
parecem procurar algo em você.
Esmiúçam, olham tudo,
reparam teu corpo, tua posição física;
tua alma ninguém vê.
Nem pretendem saber se existe...
Você, não vê ninguém, distintamente;
é uma multidão, um vulto...
Todos são anônimos de si mesmo, então,
escapam à tua percepção,
assim como escapam eles de si mesmos.
A vida esta vazia, fora à tua dor...
Não existe nada, além de uma saudade que
já não ousas conferir.
A humilhação foi antes, no início de tudo,
que se degenerou em nada.
Olhas adiante, tua vida
depende de esquecer...
Amanhece, estás cansada.
O teu gozo foi nenhum.
Deste escape a alguns homens,
e eles já te esqueceram.
E você, não consegue registrar o nome
e as imagens, são alguns, como sempre.
Já é manhã, é dia, está tudo claro,
menos em você...
Não tem manhã, não tem dia, não tem claridade,
tudo é amargura, saudade,
que você não se lembra do que, de quem...
Mas não há do que reclamar: você não ansiava,
você não esperava,
nem sabe se precisava,
nem sabe se queria,
tudo como sempre,
todos são o mesmo dia.
O dia que você não queria, não existiu,
assim como todos os dias.
Existiu uma esperança, sim,
em um dia daqueles, que
são como todos os dias.
Parecia que tudo seria diferente, não foi:
foi tudo como foi em todos os dias.
Mas naquele dia a vida oferecia outras coisas,
que linda perspectiva!...
Ilusão foi tudo como foi em todos os dias.
Você, amiga, continua andando,
pelas ruas, pelas praças,
pelas esquinas...
MAIS ESTÁTICA DO QUE NUNCA.
Você segue,
em uma solidão de quem tem amor puro,
verdadeiro, total, exclusivo,
aguardando um dia que não seja assim...
Assim como são,
Todos os dias.
evaldodaveiga@yahoo.com.br