Sobre karmas, calma e gana
existe uma linha.
uma linha que eu queria dizer tênue, como as linhas que se dizem em poesias,
mas essa linha que existe, existe com convicção,
existe implacável como poucas cousas outras, vivas.
eu quero ir além dela, pular pra dentro do anel de fadas, onde as coisas podem acontecer pra mim. não acredito em destino, mas vejo em todos os meus desatinos, uma posição que sempre sempre se repete. rodam as cadeiras, rodam as pessoas, rodopiam as notas, vibram as cordas... eu continuo no mesmo lugar... do outro lado do confessionário, a silenciar as dores e ocultar as chagas daqueles que gosto, e que julgo amar - calada - mas que sequer conseguem enxegar em mim o rosto; a expressão que realmente tenho, as gotas douradas de pólen que se enroscam por entre as dobras do meu cenho. tenho vontade de gritar pro mundo, pra horda de homens imbecis e imundos que esperam pelas vacas mais vistosas e silenciosas, que não preciso de nenhum deles! preciso só atravessar a cerca, afastar a linha, que logo alguém enxerga em mim o brilho que de tanto querer ser múltiplo, ofusca a si próprio e quase cessa. e há de achar nisso uma quimera! pois que todas as vacas querem ser éguas.