DIVÃ DO ANALISTA
Naquele lugar
No lugar do divã do analista
Buscas as respostas
que não querem calar em si.
Buscas reformular teus sonhos.
Soltar as amarras das fantasias.
Reeditar tua história.
Apaziguar teu Édipo.
E toda gama de idéias e emoções
que vão surgindo naquele lugar.
Um lugar onde tudo parece novo,
mas com o passar do tempo descobres
que as coisas são antigas.
Revelas ao analista e a ti mesmo
as propriedades do passado e te surpreendes
com o frescor das lembranças
e das puerilidades da tua história.
Quão difícil te pareça suportar a espera,
mais difícil te parecerá suportar
a escuta sobre a fala do analista.
Verdades? Mentiras?
Não sabes.
Só sabes o que sentes e às vezes dói.
Às vezes estrangula, mas noutras alivia
como um bálsamo, um ungüento sobre as feridas.
Dali surgirão cicatrizes, surgirão tuas histórias
aceitas e amparadas agora por ti mesmo.
Ah! Muitas vezes desejarás não estar ali.
Desejarás levantar e ir embora.
Ir para nunca mais voltar.
Ir para outro lugar e à distância
mal dizeres o dia que deitastes ali no divã.
O que te dizer então?
Se ficar encontrarás tuas transformações.
Poderás reeditar teus caminhos, compreender
melhor tua existência e tua ancestralidade.
Se vais perpetuarás teu silêncio.
Nada mais sairá de ti naquele divã.
Silenciarás também a voz do analista.
Nada mais será revelado a ti daquele lugar.
No lugar do divã do analista.
Por Graça Costa
Amparo, 20 / 01 / 2005.