ATRAVÉS DO TEMPO...
Eu falo em prosa e verso... das coisas que meu peito guarda.
Tanta coisa arquivada.
Poeira acumulada.
Anos de silêncio...
A casa está conservada.
A parede não foi caiada.
Mas ela continua intacta.
Não tem vidraças quebradas.
As cadeiras continuaram enfileiradas.
Na varanda a mesma cadeira preguiçosa que ele se sentava para escrever.
Caminho por entre os móveis e adivinho gestos.
O poeta está dormindo naquele espaço dele.
Posso sentir seu hálito.
Seu cheiro.
Posso ver a cabeça no travesseiro.
A cama larga.
O homem que rolava.
Com sua musa ele sonhava.
Em cada canto ficou um pouco de sua presença.
Fecho os olhos.
Apuro minha audição.
Ouço passos.
Os degraus um a um ele desce.
Os cristais do lustre estão empoeirados.
Um brilho embaçado de tempo passado.
Ouço uma voz...
Ela vem de longe.
Recita um poema.
De olhos fechados continuo imaginando.
Sei que estou sonhando...
mas a casa da memória eu trago para os dias de hoje.
É tudo tão familiar.
Estive aqui num outro tempo.
Conheço tudo... cada lugar.
E descanso... quando nas coisas deito o meu olhar.