BENDITA SEJA A SAUDADE

 

 

 

 

É dolorosa a chegada e o atracar da noite, pois nesta oportunidade, a solidão companheira inseparável de todos os meus dias neste ermo, vem quietinha me falar de ti com os seus lamentos.

Apesar do argênteo luar que se derrama pelas matas, de pronto e juntamente com as saudades que sinto de ti, penetra em meu coração um pouco da luz mortiça desta vaca sideral, iluminando assim a noite que também se fez em mim.

Mesmo estando eu entristecido e ensimesmado, essa luz vai deixando aos pouco um toque magnífico de beleza, suavidade e saudades.

A lua deslizando suavemente desponta quieta e solitária sobre a terra e, totalmente indiferente, vai esparramando a sua luz de prata por todos os recantos.

E o regato barulhento se transforma em estanho líquido que parece borbulhar em redemoinhos, se escorregando e fervilhando entre as pedras escuras e limosas.

A lua, sem querer, vai dando um ar magistral e místico a tudo, inclusive à natureza morta e as coisas mais simples, que de um modo elegante adquirem mais beleza.

Ensimesmado e impactado pelo espectro da noite, eis que surge e floresce na alma quase como por um encanto, o ato de lembrar-me das horas mortas do passado.

E assim, na esperança de um novo dia, vivenciando esse devaneio, eu me lembro dos teus beijos que eram perdidos.

Lembro também do calor dos teus abraços gostosos e do eco das tuas palavras que, agora, estão moduladas nesse próprio silêncio de forma misteriosa.

Nesse instante eu fecho os olhos e me transporto silente para ti, pensando o quanto tu já foste minha, o quanto tu já foste o meu tudo, o quanto te beijei debaixo desse mesmo céu, e agora tu és somente saudades.

Eu sei que tu não me abandonaste, entretanto distante de mim ficaste, e assim, a tristeza me invadiu por inteiro.

Mesmo varado por essa pungente dor, confesso-te que, a minha vida sem a tua seria uma caminhada de tédio e muita angústia.

Agora estou só, plenamente só, acompanhado apenas pela solidão e pela saudade, elas são a própria tristeza e a causa dessa inominável dor que, até então, eu não sabia que doía tanto.

Olho para a escuridão da noite e vejo apenas as estrelas dependuradas na abóbada escura do céu, elas cintilam de forma intermitente, quer me parecer que elas estão transmitindo para ti numa doce telepatia as minhas doridas saudades.

Bendita seja essa maldita saudade, pois ela é o meu alento.

Dou graças a ela porque com ela, quase sinto a tua linda presença em mim.

Ela é o meu sol.

Todo o meu luar.

Toda a nossa vida.

Todo o nosso amor.

Bendita seja a saudade!

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 29/07/2008
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