Num espelho
Num espelho reflecte-se a luz velada da manhã.
Talvez fossemos ver o mar de braços erguidos no vértice do ar –
que fizemos do futuro que nos esquecemos?
Talvez no delírio das aves pronunciássemos as palavras que nunca dissemos.
Corrias pela areia de vestido púrpura e caíam pétalas dos teus cabelos negros ao vento álgido. Num espelho reflectem-se as hastes líquidas da manhã. A chuva inunda a atmosfera num dia em que a luz despertará da névoa. O mar ficará depois de nós – talvez solene, escutando a música de outros corpos.
Mordemos lábios, soletramos sílabas, comemos frutos.
Trocamos dedos, mordemos frutos, soletramos lábios, comemos sílabas.
E morremos de novo
entre as dunas, vigiados pelas sombras veladas da manhã.