POR ENTRE OS ÁLAMOS
Por entre os álamos dos meus sonhos,
vejo Lorca. E o seu sorriso de menino,
seu olhar de janela florida me faz chorar.
Trasladei-me a ele, nessa noite
em que cumpro Bodas de Sangue comigo mesma,
em que comemoro essa vitória da poesia,
do gesto e do duende acima da anti-humana mente
humana. O saber-se num tempo amargo e cruel,
Bodas de Sangue dentro de um papel
comandado por uma Bernarda Alba
especializada em ferir e gozar.
Arquitetura brutal feita de lâminas
no pensamento, com jardins e rosais
e anjos e duendes a apacentar os tijolos,
os vitrais e versos senhoriais...
Amanhã, às cinco da tarde, Lorca, estarei olhando
o por do sol -- vestida de azul e verde,
cigana da vida, para homenagear-te.
Você, que desenhou o mundo para mim
esta noite, com tua pena
de aurora granadiana, grandioso,
que recusou a vida em
moedas de ouro:
- "Dê-mas de prata.. Parece
que estão iluminadas pela lua".
(Direitos autorais reservados).