POR ENTRE OS ÁLAMOS

Por entre os álamos dos meus sonhos,

vejo Lorca. E o seu sorriso de menino,

seu olhar de janela florida me faz chorar.

Trasladei-me a ele, nessa noite

em que cumpro Bodas de Sangue comigo mesma,

em que comemoro essa vitória da poesia,

do gesto e do duende acima da anti-humana mente

humana. O saber-se num tempo amargo e cruel,

Bodas de Sangue dentro de um papel

comandado por uma Bernarda Alba

especializada em ferir e gozar.

Arquitetura brutal feita de lâminas

no pensamento, com jardins e rosais

e anjos e duendes a apacentar os tijolos,

os vitrais e versos senhoriais...

Amanhã, às cinco da tarde, Lorca, estarei olhando

o por do sol -- vestida de azul e verde,

cigana da vida, para homenagear-te.

Você, que desenhou o mundo para mim

esta noite, com tua pena

de aurora granadiana, grandioso,

que recusou a vida em

moedas de ouro:

- "Dê-mas de prata.. Parece

que estão iluminadas pela lua".

(Direitos autorais reservados).

Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 28/07/2008
Reeditado em 20/01/2009
Código do texto: T1101980
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