A perfeição absorve a feição, mas ainda somos tão imperfeitos
A perfeição absorve a feição,
Num dia imperfeito tentamos ficar perfeitos,
E num dia perfeito buscamos a imperfeição,
Mas ainda ornamos o pão com a manteiga
A calça com a blusa, o escarnio com a graça
A saliva com a calçada, a merda com a latrina,
A vontade com a demasia, o estômago com a azia.
Os sapatos sem as meias ainda vestem os pés,
Mas só a pele não reveste os corpos.
E os nervos ligam os ossos
Como o cimento gruda o tijolo.
Separam o joio do trigo,
E a semente do sorgo.
Mas só duas tetas não alimentam o mundo.
Quando a fome chega, comemos até a migalha do mais imundo.
As escadas e nem os elevadores não nos levam ao céu.
Os porcos comem a sujeira e nós nos alimentamos dos porcos,
a vítima sente a frangância do réu.
Não somos quebra cabeças, mas temos ossos.
Sossegue seu esqueleto dentro de quatro paredes e guarde bem seus bens.
Lá fora segue-se a fila dos sobreviventes,
Os nobres passeiam em suas mercedes benz
E ainda temos que responder as perguntas dos incovenientes.
Não se esqueça de apagar a luz quando sair de si mesmo,
A energia da alma é cara
Forte não é o que encara.
E sim o que elabora uma coisa rara.
A perfeição absorve as tentativas
Nunca faça suas apostas de mãos vazias,
Reverencie as cabeças ativas
Jamais deixe sua vontade contrair paralisia.
A perfeição absorve a feição
Mas ainda somos tão imperfeitos.