Nada além de todas as coisas

Nada além!

Nada, Alan!

Nada além das mentiras do Amor ou da ilusão do Mário Lago de “viver feliz na ilusão de ser feliz”...

Nada além da eternidade do amor de mãe, exigido e imortalizado nos versos de Drummond.

Nada além!

Nada além da ilusão petulante de Fábio Cesar acerca de sua intimidade com “nossa língua” brasileira.

Nada além da perenidade do amor/humor de Belchior e Vinícios.

Nada além!

Nada além do vento nos meus cabelos (agora grisalhos).

do sol na pele da cara

das ondas lambendo-me as pernas, na odisséia californiana de Lulu e Nelsom Mota.

Nada além de “todas as coisas”, tão inexeqüíveis quanto factíveis.

Nada além da sensação inconsciente da perigosa inconseqüência dos seus quinze anos.

Nada além da sanha da juventude nos seus quinze anos.

Nada além da reta infinitamente crua no papo da tia Sandra.

Nada além do cheiro inigualavelmente doce da vó Clotilde.

Nada além das boas flores com o cheiro dela.

Nada além do tudo de novo.

Nada além do nada de novo.

Nada além da veia rasgada

do sangue na pauta

na tela...

Nada além de todas as possibilidades – as prováveis e as insólitas – insertas, explícitas ou implícitas, no imprescindível caminho do quando

do onde

do porquê

do destino hipotético

e patético de cada um de nós.

Nada além do desatar dos nós que se nos apresentam dia a dia.

Nada além do nosso dia-a-dia.

Nada além!

Nada, Alan!

Chico Rosa
Enviado por Chico Rosa em 24/07/2008
Reeditado em 12/02/2009
Código do texto: T1095017