PRINCÍPIO DA ALMA

No princípio, quando minha alma era criança,

Necessitava eu duma autoridade externa,

De um homem super-homem,

Que me guiasse pela mão,

Rumo a Deus.

E eu vivia tranqüilo nesse mecanismo

De cega obediência

A um homem que fazia as vezes de Deus.

Desci a tenebrosos abismos

Até, finalmente, atingir um oásis de paz,

De uma paz profunda, nascida da Verdade...

Entrei no terceiro e último dia fui interprete da natureza.

Meu Deus! Como é difícil viver aquilo que se pensa!...

Outrora, toda a minha filosofia estava na cabeça,

Em forma de grandes idéias,

Mais tarde, a minha filosofia desceu ao coração,

Em forma de belos ideais.

E eu, na minha erudita ignorância,

Me tinha em conta de um filósofo...

E, em frases grandíloquas de altissonante eloqüência,

Proclamava aos quatro ventos a minha sapiência filosófica...

Quando, porém, tentei passar a minha filosofia

Da cabeça e do coração para as mãos,

Para a crueza da vida prática,

Para o rude prosaísmo da vivência cotidiana -

Quase que desanimei...

Verifiquei que subia ao Gólgota

E ia ser crucificado...

Da cabeça e do coração para as mãos -

Não é isto uma cruz?

Minha pobre filosofia,

Ontem tão segura e autocomplacente,

Hoje, sangrando entre os braços da cruz!...

Didiovieira
Enviado por Didiovieira em 23/07/2008
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