PRINCÍPIO DA ALMA
No princípio, quando minha alma era criança,
Necessitava eu duma autoridade externa,
De um homem super-homem,
Que me guiasse pela mão,
Rumo a Deus.
E eu vivia tranqüilo nesse mecanismo
De cega obediência
A um homem que fazia as vezes de Deus.
Desci a tenebrosos abismos
Até, finalmente, atingir um oásis de paz,
De uma paz profunda, nascida da Verdade...
Entrei no terceiro e último dia fui interprete da natureza.
Meu Deus! Como é difícil viver aquilo que se pensa!...
Outrora, toda a minha filosofia estava na cabeça,
Em forma de grandes idéias,
Mais tarde, a minha filosofia desceu ao coração,
Em forma de belos ideais.
E eu, na minha erudita ignorância,
Me tinha em conta de um filósofo...
E, em frases grandíloquas de altissonante eloqüência,
Proclamava aos quatro ventos a minha sapiência filosófica...
Quando, porém, tentei passar a minha filosofia
Da cabeça e do coração para as mãos,
Para a crueza da vida prática,
Para o rude prosaísmo da vivência cotidiana -
Quase que desanimei...
Verifiquei que subia ao Gólgota
E ia ser crucificado...
Da cabeça e do coração para as mãos -
Não é isto uma cruz?
Minha pobre filosofia,
Ontem tão segura e autocomplacente,
Hoje, sangrando entre os braços da cruz!...