Raio de sol.
Na janela de seu quarto, debruçava-se por longas horas, como se fosse tomada por um encantamento. Tudo parecia distante. Olhar fixo. Silêncio sepulcral. Pacientemente esperava. Corpo presente, enquanto que a mente... Bem, o que estava muito além daquele espaço era sua mágica imaginação. Quem poderia prendê-la? Na negritude de seu olhar, que se perdia naquele caminho, que tão bem conhecia, havia um ar de tristeza, de melancolia. Talvez fosse por desejar com tanta veemência, ver aquele raio de sol - que lhe fazia tão bem - dourar seu céu, que ora encontrava-se com nuvens escuras tornando o dia sombrio. Mas insistentemente, esperava. Sabia que a qualquer momento essa escuridão iria dissipar-se e seus olhos voltaria a brilhar ao filmar aquela imagem tão desejada, ficaria gravada em sua retina; uma aparição repentina de pura beleza, esplendorosa, que lhe extasiaria a alma. Convicta estava que a espera seria ricamente recompensada. Seu lindo sol haveria de surgir.
Mas enquanto não chegava esse momento, seus pensamentos desfilavam excitantes, trazendo sua coleção de lembranças, de momentos vividos entremeados de fantasias possíveis de realização. Construía sonhos... de repente tão reais que já nem sabia distinguir o que de fato era real e o que era fantasia. Enlouquecera? Talvez. Queria libertar-se da solidão, de dias intermináveis... Precisava receber seu calor energético para aquecer seu corpo trêmulo e gélido, acender a lareira. Transformar-se-ia numa linda e encantada rainha para receber seu astro rei.