PREMONIÇÃO
PREMONIÇÃO
Arrumando para viajar com as garotas do balet, Beth, Mara e Clair. Ligamos a valsa inspiradora de Bach e alegremente terminamos de fazer as malas. Era nosso sonho poder se apresentar em Chicago. Chegando ao aeroporto encontramos diversas personalidades. Havia nadadoras, violinistas, um grande poeta, dentre outras personalidades. Iríamos cantarolando até chegarmos ao destino. Pensava.
“Senhoras e senhores, apertem os cintos, pois já vamos decolar”. Disse o piloto.
Num estalo e depois num grande estrondo, pude ver as nadadoras se afogando por entre nuvens ensangüentadas, o poeta ainda segurando forte sua caneta de fios dourados, o violinista soando seu último acorde enquanto as cordas eram arrebentadas uma por uma, em pausas. Eu podia ver a moça que estava dormindo no nosso corredor ainda em sono tranqüilo, via Beth, Mara e Clair, entrelaçadas, inseparáveis. O piloto preso em sua cadeira achando que de algum modo poderia voltar para casa, para os seus filhos. A senhora louca que ainda portava o porta-retrato do marido já falecido. Pude ver o paralítico conseguir voar por entre pernas e braços das meninas do último acento do avião. A prima-dona soar “Aleluia” em todos os tons. Eu me via soltando lágrimas de sangue enquanto sonhava com este desastre. Foi um pesadelo trépido, angustiante e eu já temia o vôo 116 com a equipe de dança para o dia seguinte.
Inspirado em Jorge de Lima. Poesia e prosa.