COISAS QUE AS MÃES NÃO DEVEM FAZER

Durante muitos anos de minha vida agi de uma forma tão perfeccionista que nem percebia o quanto me prejudicava. Precisava ser a perfeita, filha única que só orgulhava aos pais.

Acredito que de tanto ouvir as lamentações de minha mãe por ter conseguido vingar apenas uma filha, esta não tinha grandes opções: ou eu seria uma boa ou má filha. Cresci ouvindo sempre este som, que acredito se ela, a minha mãe, tivesse consciência do peso que me punha nas costas jamais diria aquilo. Mas como ignorava o desenvolvimento infantil continuava com suas lamúrias de mãe preocupada. Ah, se ela soubesse que a criança entende tudo ao pé da letra. E que estas têm os pais como grandes referenciais a quem querem muito agradar. Mas como alguém que não estudou iria compreender algo tão complexo?

Enquanto isso eu crescia e a cada dia punha mais uma pedra no meu fardo, que por sua vez, ficava mais difícil de carregar. Mas eu tinha que carregá-lo. Imagina se queria decepcioná-la. Portanto, não me envolvia em situações normais de crianças, em especial nas brigas. Só lembro uma que tive, cheguei a puxar os cabelos de uma colega, mas foi uma vez só. Deixar a minha mãe triste, preocupada, isso eu não podia fazer. Sair de casa dizendo que ia a um lugar e ir pra outro, jamais. E a vida seguia seu curso, enquanto eu não me comportava como uma criança normal. Me tornei uma criança introspecta, arredia. Então aconteceu o meu encontro com a leitura, minha grande aliada. Lendo e aprendendo fui questionando as verdades cristalizadas. Entretanto, mesmo com muita leitura – tinha e ainda tenho sede de aprender – continuava a garota certinha, a que não erra para não decepcionar a mãe. Mas acabei descobrindo que grande decepção causei a mim, pois mesmo sabendo que errar fazia parte de um aprendizado, continuei me comportando do mesmo jeito que fui condicionada a me apresentar socialmente, era o único modo que eu sabia, já havia incorporado, enraizado na personalidade.

Hoje depois de viver um pouco, ter constituído família, da qual muito me orgulho, aos quarenta e dois anos não me desvencilhei completamente do ser certinha, ainda sou muito severa comigo. Por isso já desenvolvi doenças relacionadas a este tipo de comportamento: ansiedade, insônia, angustia... Mas já tenho consciência desse fato e encampei uma luta para me livrar deste rótulo condicionado.

Contudo não me tornei uma pessoa infeliz, ao contrário, dentro de mim habita muita vida, uma alegria contagiante e muita energia que me faz viver cada dia melhor que o outro. Sou uma aprendiz na vida...

E o que aprendi com a minha mãe não me fez deixar de amá-la, pois sei da sua ignorância com relação às conseqüências futuras. Pena não ter descoberto esse fato antes dela fazer sua passagem, ainda era muito jovem e pouco sabia da vida. Entretanto, me serviu de combustível para buscar fugir da ignorância, que até hoje, para mim é o maior mal da humanidade.

E serviu também de exemplo para eu não usar este comportamento com meus filhos, para que pudessem crescer saudáveis e livres de corpo e mente. E assim eles são, felizmente.

Fátima Feitosa
Enviado por Fátima Feitosa em 21/07/2008
Código do texto: T1090163
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