A quem se foi
Nós estamos sozinhos, e eu somente,
Eu que posso chamar-te pobre eu mesmo,
E porque sinto tudo o que tu sentes
E andei sentindo tudo o que sentiste
E guardo na memória
A memória de todos os teus dias,
E poque sou teu espelho e porque trago
nos lábios a tua sede e porque trago na pele
o talho de todas as tuas dores e no rosto as tuas cicatrizes,
E porque tenho no sangue os rios arrepiados de tua angústia
E dentro da alma
O solo vacilante das tuas aventuras.
Eu somente, porque sou tu mesmo
Embora não podendo procunciar teu nome,
nem ser o ombro para a fadiga de tuas tardes
Posso, te dizendo, ter certeza
E ser tua palavra e tua verdade:
- o tempo não existe
O próprio tempo acaba e acabou
E quem não for capaz, depois de tudo,
de ser como nós dois, os dois num só
Não será grande