Oração da mulher

"Em louvor

ao supremo poder do universo,

criador de todas as coisas,

a cada noite,

antes de repousar

o corpo no meu leito,

oro fervorosamente,

em agradecimento

à dádiva que tenho,

do meu homem amado.

Meu complemento,

companheiro

de todas as jornadas,

por ti vivo

e elevo o meu pensamento,

mais alto que o vôo do falcão.

Tornei-me vestal

do templo mais sagrado

da face da Terra:

o nosso lar.

Sem a tua presença,

a minha tenda é frágil

ao vento do deserto

e sinto a solidão

das dunas sem fim.

Mas quando a areia murmura

com os teus passos,

meu corpo treme de emoção.

Recebo-te de braços abertos

envolta em panos

do mais puro linho,

mesclados com lenços

de sedas do oriente.

Revelo apenas

os meus olhos brilhantes

e as minhas mãos sedutoras

para que me descubras renovada

na surpresa de cada parte desvelada.

Tiro as tuas vestes empoeiradas

e banho-te com o carinho

que uma mãe tem com o filho.

Lavo os teus pés

com água tépida de benjoim,

depois perfumo-os

com a essência do sândalo.

Leva-me nos braços

para almofadas macias

que preparei para a tua chegada.

Recita-me um poema,

que te cantarei uma canção,

enquanto revelo-te

o meu colo alvo,

tão macio como as pétalas

da flor do narciso.

Toma os meus seios,

delicados como frutos maduros.

Os botões se desabrocham

com o toque dos teus lábios;

entrego-os como a flor

se entrega ao bico do colibri.

Meu ventre freme

com o rigozijo do teu olhar,

penetrante como o olhar do felino.

Acaricia-o suavemente

sem nenhum temor,

pois temos todo o tempo

para celebrarmos

o nosso encontro.

Volto-me de costas

para que me massageies

com o precioso óleo do sésamo

e mucilagem de aloés.

Assim, sinto-me descansada,

em entrega plena.

Reservo-te

no recôndito mais oculto,

a concha de madrepérola

que vais afagar,

para que se abra aos poucos,

ávida pelo roçar cálido

da tua boca úmida.

Sou o teu oásis reconfortante

para a fadiga da viagem.

Sorva-me como a água fresca,

puríssima da fonte

e sacia a tua sede.

Alimenta do meu mel,

doce como tâmaras maduras,

que aplacam a tua fome.

O teu cetro de jade

flameja à luz do luar -

quero tocar-te

com sofreguidão.

Penetra em meio

aos meus mistérios

e sinta a fragrância

suave como a dos lírios.

Em um crescente súbito,

sinto a força gigantesca

da fonte de toda a vida

e felicidade.

De olhos fechados

imagino o firmamento,

repleto de estrelas,

quando um cometa

risca os céus

e explode em luz

ao tocar o meu ser.

Sou una com o Todo

junto ao meu amado."

Brasília, 29 de novembro de 2005

Humberto DF
Enviado por Humberto DF em 05/02/2006
Reeditado em 21/12/2007
Código do texto: T108339