Juventude
 
Agachei-me para pegar o último
parafuso que faltava da roda,
depois de ter substituído o pneu furado.
Tateei o chão coberto de folhas secas.
Mas que nada, tinha perdido...
É ruim quando a gente sente
que perdeu alguma coisa.
Ouvi ao longe passos de cavalos
sobre as mesmas folhas secas.
Um arrepio correu por todo meu corpo.
Foi se aproximando e levantei os olhos
já com os sons de cânticos angelicais.
Uma mistura de violinos, trotar de cavalos
e anjos cantando pra mim.
Me deixei levar pela embriagues do medo e,
surpreso, observei que era mesmo uma carruagem
com dois cocheiros e dois cavalos com sinos no peito.
Uma visão surrealista em plena via Dutra e,
ainda, num domingo de sol.
O que faziam ali?
O que traziam?
Por que o banco do passageiro estava vazio?
O som diminuiu e só um piano
 arranhava minha alma com doçura.
Um anjo pousou suavemente no
banco vago e me alertou cantando:
- Estamos levando sua juventude.
- Daqui a uns dias você fará 60 anos.
O arrepio veio mais profundo
e meus olhos lacrimejaram.
É horrível saber que se está perdendo alguma coisa.
Enxuguei as lágrimas nas mangas da camiseta.
Achei o parafuso...
Augusto Servano Rodrigues
Enviado por Augusto Servano Rodrigues em 15/07/2008
Reeditado em 17/07/2008
Código do texto: T1082156
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