Chovendo em Mim
Desejo que não me desejes, só peço que nada me peças, e qualquer mínimo te impeça. Imploro para que tudo me explore, não de modo simplório, assim de íntimo aplauso. Renego a vontade que me negas, e denigro a imagem que me entregas, coloco a perder tudo o que preservas...
Essas unhas tão bem feitas presas por dentes de batom carne. Um traje de renda conta o que todo mundo já viu... Faça suas contas:
Um amor de cinco pessoas;
O horizonte em quatro diferentes cores;
O pretexto em três sorrisos com defeitos;
Somente dois caminhos a seguir;
Um será o fim de tudo, o outro começo do nada;
Nenhum sentimento, nenhum ressentimento... Loucos por tomar parte do que não faz parte, o que já é muito, muito, muito tarde.
Ninguém vai me lembrar de ver a última flor atrás das sombras.
Um céu apenas não inspira.
Duas vidas vão se matar de tanto horror.
Ao terceiro toque finalmente sorrimos.
No quarto, até a alma despimos.
As vezes, dão cinco vontades de se jogar da ponte.
Qualquer ato nunca foi tão planejado, tanta loucura nunca mais foi só tua. Olhar novo, olhar diferente, usar os olhos pra lavar o corpo todo, encher um copo bem cheio de intrigas e beber até a última gota. Caminhar na corda bamba das tempestades, sobre qualquer pretexto, sobre qualquer idade, sempre executando as maldades. Estar apenas só, só eu e Deus, seus mandamentos e martírios, as bondades de um demônio que me sorri e chama a pecar mais e mais e mais e bem pecado pra não falhar... E se eu falhar não peco!
A lembrança do mal é a morte;
A lembrança do fogo é a fumaça;
A lembrança do riso é o que não tem mais graça;
A lembrança da beleza e a imperfeição;
A lembrança do horrível, é saber que belo nem todos são;
A lembrança do terror é o coração;
A lembrança da criação é o nascimento;
A lembrança do timbre é o grito;
A lembrança da celebridade é o mito;
A lembrança do tudo é o infinito;
A lembrança do fogo é o calor;
A lembrança do paladar é o sabor;
A lembrança da terra é o tremor.
A lembrança da palavra é a praga.
A lembrança da chuva é a lágrima;
E calam-se todos os sentidos, calam-se todos os órgãos... A felicidade, o bem-estar, a saúde, a mesa farta e santa... A razão está em liquidação, é toda minha a tempestade. Usem seus olhos, calor e grito para admirar o que vem do céu, a mensagem molhada que não se apaga, escorrendo como veias externas. É meu sangue doado ás mães, é meu fluído que não cerra. Outro ser se forma, o universo dispõe maxilares pra rever as feições de medo. Pode continuar olhando, se não eu grito os teus segredos. Não há impureza que não decaía, não há fibra que não renove, não há trovão que não informe, raio que não ilumine, telhado que não os estime. Ordeno que de tormenta tudo se faça, está chovendo em mim, e assim quero esta paz pra humanidade. Está chovendo em mim e aniquilo do sol a saudade. Te respiro de muito, muito, muito perto, conta cada poro, estremece, confunde... Não é espírito, invisibilidade, semideus, nem outra divindade. Só um ser humano, dotado da natureza que rege... Não falem, não perguntem, não se calem, não cessem, deixe apenas ocorrer, e correr, maltratar e abstratar, deixa apenas, porque está chovendo em mim.