SEM MARCAR HORA

Teve vontade de escrever o que não deu para falar. O que deixara para um depois que chegou tão rápido que já era a hora de partir. Então despediram-se correndo aproveitando o sinal . O trânsito proíbia beijos demorados. Ele desceu rapidamente e seguiu sem olhar pra trás.

Ela o acompanhou pelo retrovisor como sempre fazia. Dessa vez, não pegou o celular. Ele sempre pegava o celular. Nesta hora, sentia sua condição distante de um mundo a que não seria apresentada.

O sinal abriu e perdeu-o de vista.Voltou ouvindo música. A princípio feliz, guardando o que a fazia feliz e retardando tristezas . Mas devia ter ouvido o jornal noticiando congestionamentos e apontando saídas. Fez a opção pelas ruas conhecidas e demorou a chegar. Então as canções que faziam pensar foram preenchendo o tempo em seu caminho lento e a tristeza, sem marcar hora, chegou mais cedo.