Um espectro de carne e osso

Um espectro de carne e osso

Faltam cinqüenta e três dias!

Há três anos, matei e estuprei dois gêmeos

Eram crianças tão lindas e espertas

Poderiam ser meus filhos

Porém, a conveniência dos enlaces sociais assim não quis...

O parque estava vazio e com vida

A minha ilusão estava sem vida e vazia

Aquelas crianças não tinham idéias sobre a vida

As suas ilusões eram vistas por uma realidade infantil...

Foram seduzidas por um helicóptero teleguiado

Comandado por um piloto frustrado

Sem enlaces sociais e biologicamente alterado

Manobras radicais em plena praça pública...

Crianças adoram adultos que brincam

Sendo assim, levei-os à minha casa

Onde mostrei outros modelos mais sofisticados

Que faziam parte da minha coleção

E eles ficaram felizes e animados...

Estavam ali, diante das minhas miniaturas

Ofereci-lhes suco de laranja

Pois fazia muito calor, mas nem tanto pelo calor

Sobretudo, a boa educação me advertia a servi-los...

Aquele pó branco que estava no armário

E que serviu para adormecer outros garotos

Ávidos por video-games de última geração

Foi despejado nos copos cheios de suco de laranja

Lindos gêmeos... calor oportuno

Educação oportuna... refresco oportuno...

O gelo refrescaria ainda mais

Coloquei duas pedras em cada copo

E adocei com açúcar refinado

Quimicamente adulterado, propósito satisfeito

Confesso que senti água na boca

Por muito pouco, mas por muito pouco mesmo

Eu não tomei todo aquele líquido sonífero...

Nunca devemos aceitar comida ou bebida de estranhos!

Mas ali, eu não era um estranho

Era o mágico, e mais, que tinha os brinquedos

A brincadeira, a arte de enfeitiçar as crianças

E elas estavam enfeitiçadas...

E por que não beber aquele suco delicioso?

A magia dos controles remotos...

Foram apenas dois goles

E lá estavam aquelas criaturinhas

Espalhadas pelo chão frio de minha garagem...

Certifiquei-me que estavam dopados

E retirei peça por peça dos seus vestuários...

Que belos corpos brancos e franzinos

Procurei por diferenças, que os diferenciassem

Se não fosse o corte de cabelo

Jamais saberia quem era quem

Que belos corpos sedosos

E com tanta vida... vida!

Amarrei-os aos pés da mesa

E apreciei cada pulsar dos seus corações infantis

Pueris, filhos do mesmo útero, afilhados do mesmo helicóptero...

Não eram como as outras crianças que executei

Tinham fisionomias da classe média americana

Não havia dúvida alguma

Foram educadas para servir ao país...

As correntes de ouro penduradas nos pescoços

Mostravam que eram católicos fiéis

Seus pais católicos se preocupavam em educá-los religiosamente...

As unhas dos pés e das mãos estavam aparadas

Os cabelos penteados com pentes de ossos brancos

Um aroma de perfume infantil para duas crianças

Suas roupas estavam limpas e muito bem engomadas

Era claro, estava diante de exemplares da classe média americana...

O efeito da droga passaria em duas horas para um dos gêmeos

Enquanto o outro continuaria seu sono tranqüilo...

Durante este período fiz todos os preparativos

Coloquei sobre a mesa todos os utensílios:

Vaselina, crucifixo, bíblia

Velas coloridas e velas brancas

E uma faca inspirada no miserável do Rambo...

Lágrimas vertiam pela minha face

Estava tão desesperado quanto os pais de crianças desaparecidas

O ritual animado por cânticos gregorianos

Conduzia-me à Idade da Inquisição

Magia, julgamento, execução...

Entretanto, aquelas crianças não eram culpadas de absolutamente nada...

E assim era, e assim é, e assim será

Sem culpa, porém, culpadas...

Então, por que foram condenadas?

Um grito silencioso saiu do meu corpo desesperado

A parafina começava a escorrer pelas velas

O ambiente estava contaminado de fumaça

E aqueles corpinhos já respiravam com dificuldades

Se é que necessitavam do aparelho respiratório...

As lágrimas escorriam pela minha face

Não havia mais possibilidade de retorno

A execução era uma questão de horas

Minha honra desumana e desonrada

Paga com sangue infantil...

Que honra? Que horas? Que infância?...

O garoto de cabelo cortado à escovinha

Tossiu por diversas vezes, e acordou

Seus olhos verdes e grandes estavam brilhando

A palidez de sua pele sedosa

Deu lugar à cor da morte...

Cinco horas da tarde...

Segui o ritual minuciosamente

Cada detalhe, não poderia ser esquecido

Qualquer deslize, e a encenação seria um fracasso...

Apanhei aquela miserável faca

Agarrei os cabelos compridos do gêmeo ainda adormecido

E num só golpe, num maldito e derradeiro golpe

Decapitei-o...

Diante daqueles olhos verdes, grandes e espantados

E mais, desacreditados, do gêmeo vivo

Conduzi solenemente a cabeça do irmão morto...

Coloquei-a, carinhosamente, no altar

E como eram católicos praticantes

Não me esqueci das imagens dos santos de gesso:

Sagrado Coração de Jesus, Nossa Senhora das Dores

São José, São Paulo, São Pedro, e mais alguns...

O canto gregoriano trouxe a paz esperada...

Os olhos verdes e grandes do gêmeo vivo estavam arregalados

Talvez, não acreditassem no que viam

Os helicópteros continuavam na outra sala

Estavam com seus motores desligados

Não queria que se lembrassem do motivo daquela tragédia...

Às vezes, os executores são mais piedosos que os julgadores!

Os meus sentidos naturais ferviam de ódio próprio

Enquanto conduzia aquelas cenas de terror...

Cuidadosamente, e também carinhosamente

Passei vaselina no ânus do gêmeo morto

E com o prazer de um recém-casado

Ávido, e ao mesmo tempo angustiado

Estuprei-o...

Neste instante sórdido, mórbido

E de lembranças tétricas, embora necessárias

Um grito horripilante saiu do gêmeo vivo:

Nãããããããããããoooo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Uma nuvem preta inundou meus olhos azuis

Aquele sangue infantil manchava

E ao mesmo tempo, glorificava meu ser

Então, restava o gêmeo vivo...

Cinco horas e quarenta e sete minutos da tarde...

Seguindo o mesmo ritual do gêmeo decapitado

Apanhei aquela faca miserável

Agora com o sangue do gêmeo morto

Agarrei o cabelo escovinha do gêmeo desmaiado

E também num só golpe

Decapitei-o ...

Não havia mais olhos verdes, grandes e espantados, nem desacreditados

Apenas o olhar melancólico das velas

A triste presença de Cristo

As páginas amareladas do Mar Vermelho

O ronco mudo das pás dos helicópteros desligados

E as borbulhas criminosas de um refresco criminoso...

Conduzi, solenemente, a cabeça do outro gêmeo morto

Depositei-a, carinhosamente, ao lado da outra cabeça desfalecida

Havia esquecido do crucifixo e da bíblia

Busquei-os na outra mesa

E coloquei-os ao lado daquelas magníficas cabeças...

Nenhum olho vivo contemplou o restante do ritual

Talvez, por estarem mortos

Ou por fecharem os olhos verdes diante de tamanha calamidade...

Fui até a outra sala

Ainda restava suco de laranja nos copos

Olhei para todas aquelas miniaturas

E trouxe comigo o helicóptero cúmplice

Pensei que aquele ato animasse os garotos

Mas não

Continuavam paralisados, calados e frios

Como se estivessem mortos...

Os meus sentidos naturais ferviam de ódio próprio

Enquanto conduzia aquelas cenas de terror...

Cuidadosamente

Passei vaselina no ânus do gêmeo de cabelo escovinha

E com o prazer de um recém-casado

Ávido, e ao mesmo tempo angustiado

Estuprei-o...

Neste instante sórdido, mórbido

E de lembranças tétricas, embora necessárias

Não ouvi nenhum grito horripilante

Seus corpos brancos e franzinos estavam quentes

Suas cabeças apoiadas delicadamente sobre o altar católico

Não esboçavam nenhum movimento

Pareciam mortas

Aqueles lindos garotos de olhos verdes e grandes estavam mortos...

Dez horas e sete minutos da noite...

Enterrei aqueles belos corpos infantis no meu quintal

Juntos com outros seis corpos não infantis, tampouco adultos

Talvez, adolescentes

Que foram seduzidos por um video-game de última geração

E mortos sem o mesmo prazer

E também, sem o mesmo ódio próprio...

Não deixei nenhum vestígio dos gêmeos

Cozinhei uma macarronada com molho à bolonhesa

Jantei, e em seguida, adormeci...

Faltam cinqüenta e três dias!

Alguns dias depois...

Muitos cartazes foram espalhados por todas as ruas da cidade

As fotos não tinham uma boa resolução

Provavelmente, impressos às pressas

Não tiveram o cuidado de retocar as fotos

Os garotos estavam deformados, feios até

Quando estiveram comigo eram mais bonitos...

Toda a população estava aflita por mais esta barbárie

As rádios anunciavam o desaparecimento a todo instante...

Um guarda municipal nos viu na praça pública

Ele guardava o patrimônio público

E não as crianças

Mas, ele nos viu

Pois o helicóptero chamou-lhe a atenção

Não as crianças, nem eu, apenas o brinquedo

Não foi difícil encontrar o autor daquela monstruosidade...

E lá estava eu atrás daquelas grades enferrujadas

Protegido por guardas com semblantes de vingança

Embora estivessem ali para me proteger de prováveis chacinas...

Alguns meses depois...

O julgamento foi cercado de rancor, mágoa e lágrimas

Ódio, espírito de vingança e muitas lágrimas...

Todos os pais daqueles oito cadáveres vestiam luto:

Ternos pretos, saias pretas, casacos pretos, tudo preto

Luto... mas por que o preto? Sei lá...

Alguma explicação de hábitos e costumes dos humanos...

Os seus aspectos faciais diziam mais que as suas vestimentas

E mais

O juiz, a escrivã, o promotor

O advogado de defesa, as testemunhas

Os jurados, os guardas e toda a platéia

Todos diziam as mesmas expressões nas suas faces...

Diante de todas essas faces amarguradas e raivosas

Sentado numa cadeira confortável

Com acento e encosto forrados de um veludo vermelho

Estava o representante mais ínfimo da raça humana

Um monstro

Era esta a expressão que saía de todas aquelas faces

Inclusive da minha

Um monstro disfarçado de professor de biologia...

Durante três dias e duas noites se ouviram as testemunhas

Sempre protestadas pelo advogado de defesa

Que embora humano, ali era apenas um advogado

E o juiz recusava a todos os seus protestos

Deveria ser imparcial, mas era humano

E os humanos são seres errantes por natureza

E o juiz recusava e rangia de ódio o martelo...

O ar no tribunal estava sufocado pelo ódio

A vontade de todas aquelas pessoas

Aí incluo a mim, ao advogado de defesa e ao juiz

Era de se vingar ali mesmo

Sacrificar cada célula daquele professor de biologia

Daquele monstro insano...

Nos intervalos para as refeições

Sempre algemado e vigiado

Meu apetite era doentio

Embora o cardápio servido não fosse dos melhores:

Arroz, salada de batatas, um grelhado e ovos fritos

A minha fome era maior que o esnobismo

Comia até não sobrar nada na bandeja

Os olhares dos guardas que faziam a minha segurança se perguntavam:

Como pode este monstro ter fome e ser tão frio?

E ainda consegue se alimentar... cretino... miserável...

Um ser humano necessita de alimentos para sobreviver

Estava vivo

E não queria morrer de inanição

Seria contra os meus princípios biológicos...

Nos intervalos para o repouso noturno

Sempre algemado e vigiado

Meu sono era doentio:

Dormia até o último segundo dos sonhos, sete sonhos

Os olhares dos guardas que faziam a minha segurança se perguntavam:

Como pode este monstro ser tão frio?

E ainda consegue dormir... cretino... miserável...

Rezemos para que somente tenha pesadelos...

Um ser humano necessita de repouso para sobreviver

Estava vivo

E não queria morrer de insônia

Seria contra os meus princípios religiosos...

Sete horas e trinta e sete minutos da noite...

Os jurados se recolheram à sala contígua ao tribunal

A respiração de todos os presentes ficou tensa

Aquelas pessoas que acabaram de deixar o recinto

Baseadas em fatos, fotos

Carnes, ossos e outras provas

E também contagiadas pela barbárie

Decidiriam o destino daquele provável criminoso...

Não seria Deus que determinaria o meu destino

Eram seres humanos

Iguais, ou até piores que esse delinqüente

Nestes casos

Deus lava as mãos como Pilatos

Pior ainda

Refugia-se na sua própria inexistência...

Deus não seria um bom juiz

É bondoso, misericordioso, fraco

Não

Deus não seria um bom juiz humano...

Durante as quatro horas e doze minutos

Que se reuniram para decidir sobre a minha culpa

Observei que algumas moscas passeavam livremente pelo tribunal...

Estariam ali para enervar os meus vingadores

Ou queriam apenas uma parte do bolo?

Uma senhora, tão gorda e feia como a porta do inferno, bocejou

Num intervalo de quatro minutos e doze segundos

Outras treze pessoas, nem tão gordas, nem tão feias

Repetiram o gesto daquela senhora gorda e feia

Estavam exaustas, ou até mesmo, empanturradas...

Seriam aquelas moscas, tsé-tsé?

O apetite daqueles bocejadores fora maior que os seus estômagos?

Não, apenas seguiram a lei do bocejar: um, dois, três...

O advogado de defesa me dizia leis sem o menor fundamento

Todos me olhavam como se eu fosse um assassino

Até o juiz, que presume-se ser imparcial

Parecia conhecer o veredicto

E a pena estava entalada na sua garganta

Faltava apenas o momento exato para pronunciá-la.

Reparei atentamente nas mães das vítimas

Pareciam mulheres tristes e sem vida

Como aquelas mães que perdem os filhos em combates

Perder o filho fora demais para todas elas

E não houve guerra alguma

Apenas estupro... assassinato...

Os pais tinham a feição da vingança

Cada um possuía no cérebro um revólver

Com centenas ou milhares de projéteis

Milhões ou bilhões de projéteis

Um para cada célula daquele monstro biólogo

Perder o filho fora demais para todos eles...

Será que sobraria alguma célula viva?

Reconheci no tribunal alguns amigos e vizinhos

Que estavam de bocas abertas

Surpresos com tamanha surpresa

Se possível fosse, os alertaria sobre a boca aberta

Poderia entrar aquela mosca, e daí...

Os jurados saíram pela porta em fila única

Um deles, o mais velho de todos

Trazia um envelope branco em sua mão direita

Pois não tinha a mão esquerda

E o entregou ao juiz

Que já tinha a sentença e a pena em sua garganta

Aliás, todos tinham esta mesma sentença e pena em suas gargantas...

O velho juiz leu e releu o veredicto

Claro que apenas com os olhos

Mas estes não escondiam o resultado

Sua fisionomia transparecia a sua felicidade...

Sede de justiça ou vingança?

Culpado ou inocente?

Uma voz masculina tão grave e forte como a de um tenor italiano

Leu num tom e volume que todos presentes pudessem ouvir:

Culpado! Culpado! Culpado!

Toda a platéia entrou em delírio

Parecia até a final da N.B.A.

Ou a decisão dos pesos pesados da A.M.B.

A senhora gorda e feia estava totalmente acordada

Os outros treze bocejadores acordaram

Não havia motivo para bocejar

E sim para festejar

Não se via mosca alguma no recinto

O juiz batia aquele martelo muito antigo

Pedindo ordem e silêncio no tribunal

Porém, a sua verdade demonstrava que também estava festejando...

Mais, e mais, e mais marteladas...

Mais, e mais, e mais delírio...

O advogado de defesa sorriu timidamente

Nem ele acreditava na minha absolvição

Ou melhor, torcia para a condenação

O promotor vibrava como um adolescente

Reinava um clima de sucesso, vitória

Enfim, vingança...

Até Deus parecia comemorar por não me ter em seu paraíso

E o diabo festejava a minha condenação... o que não entendi...

E uma última martelada do juiz

Silêncio total, e por final a sentença:

Condenado à morte! Condenado à morte! Condenado à morte!

As mães e os pais das vítimas se abraçavam

Novamente voltaram a sorrir

Seus filhos foram cruelmente assassinados

Mas o assassino não ficará impune

Morrerá

Como se não fosse morrer jamais!

Condenado à morte! Condenado à morte! Condenado à morte!

Presenciei o abraço de Deus ao Diabo

Estavam reluzentes... felizes por motivos distintos...

Condenado à morte! Condenado à morte! Condenado à morte!

Eu que tirei a vida de oito humanos

Estava diante do meu último suspiro

Saberia o dia e a hora da minha morte...

De uma maneira mais penosa, dolorida

Ou de outra mais branda, suave

Todos

Sem exceção, têm medo da morte

Por ela ser esperada

E ao mesmo tempo, inesperada...

Condenado à morte! Condenado à morte! Condenado à morte!

Senti-me o mais privilegiado dentre todos os homens

Deus nunca me matará

Tampouco o Diabo

Não haverá surpresa na minha morte

Sei exatamente o lugar, como e quando

Porque, e principalmente, quem

E este não será Deus, nem o Diabo

Apenas um homem que acionará a chave elétrica...

É bom saber que Deus não será o algoz, ou será?

Condenado à morte! Condenado à morte! Condenado à morte!

Faltam cinqüenta e três dias!

O presídio é de segurança máxima

Fico separado dos outros detentos

Diante dos acontecimentos no tribunal, a solidão é mais companheira...

Alguns detentos passavam pela minha cela

E se tivessem uma oportunidade, uma única oportunidade

Fariam do meu corpo uma ceia prazerosa:

Pancadas, sexo e “justiça”...

Vi o sol por algumas vezes

Ele tinha a mesma imponência que outrora

Já li alguns romances sobre presidiários

Que floreiam o banho de sol

Como se fosse a oitava maravilha do mundo

A mim, o sol representa o que sempre representou

Luz, calor e energia

Apenas isso... e às vezes, até incomoda...

O céu, sim

Este parecia ter outro aspecto

Consegui por diversas vezes ver as estrelas

Mesmo nos dias mais iluminados pelo sol

O céu não era tão azul como antes

Assim, vi as estrelas

Muitas delas

E piscavam como nunca imaginei que piscassem...

Sempre um guarda me supervisiona:

Quando como aquela comida azeda e fria

Quando bebo aquela água saída das torneiras mais sujas

Quando tomo aquele banho gelado

Ou até mesmo durante as minhas necessidades fisiológicas

Que por motivos óbvios

Têm uma freqüência assustadora

E mais, necessitam da minha presença...

Durante todos esses dias

Onde tive a companhia de alguns guardas

Que me olhavam sem qualquer cerimônia cordial

Não pensei em outro assunto:

Condenado à morte! Condenado à morte! Condenado à morte!

Pedi ao advogado de defesa que não recorresse à sentença

Não quero a clemência do governador

Nem a do presidente

Nem a de Deus

Tampouco a do Diabo

Prefiro me preparar para a execução...

Um capelão, prestativo e crente

Me visitava todos os domingos

Procurava a minha reconciliação com Deus

Dizia-me que o Onipotente seria o único que poderia me perdoar

Pois é misericordioso, bondoso e pai

Ledo engano...

Nunca compreendi os dogmas da igreja

Embora sempre os considerei como seres de extremo bom gosto...

Antes de visitar outro criminoso

Orava com uma fé inabalável por mim

E também pelas almas que sacrifiquei

Gosto deste capelão... é bondoso... é misericordioso... mas não é meu pai...

Mesmo assim

Deus não me julgou

Pois não o vi no tribunal

Não havia ninguém com as suas características físicas

Tampouco espirituais

A não ser que estivesse disfarçado de jurado

O que realmente nunca acreditei

Ele não estava no tribunal...

Quem me julgou, foram os humanos

Pobres humanos

Tão imperfeitos quanto eu...

Faltam cinqüenta e três dias!

Condenado à morte! Condenado à morte! Condenado à morte!