4º sonho – Gregório de Matos, Baudelaire, Dostoievski, Camões, Goethe, Shakespeare, Cervantes, Dante...

4º sonho – Gregório de Matos, Baudelaire, Dostoievski, Camões, Goethe, Shakespeare, Cervantes, Dante...

Gregório de Matos

Mesmo sendo uma colônia independente

Vivendo das injustiças atrozes da justiça

Um mar de lama da impunidade

Mesmo com todos os acertos e conchavos

Fomos escolhidos para abrigar no nosso torrão:

Pelé

Garrincha

Zagallo e

Romário...

Todos têm

Que se curvar diante de tantos talentos individuais:

Somos tetracampeões mundiais...

Baudelaire

Sempre admiramos as diabruras dos jogadores brasileiros

A malícia com que enfiam a bola

No meio das pernas dos adversários

Comemoram o gol exorcizando um homossexualismo primata

Mas nos tempos atuais

Como é bom ver Zidane

Uma praga dos demônios para as zagas adversárias

Mesmo com toda a frescura francesa:

Somos os atuais campeões...

Dostoievski

Poderia colocar todas as minhas opiniões

Mas não

Nosso país não possui nenhuma glória

E temos como ídolo Yachin

O aranha-negra...

Até no futebol o nosso destino é o sofrimento

Carregar a cruz

Morrer ao tomarmos um gol decisivo

Poderia colocar todas as minhas opiniões:

Mas o que vale a opinião de um eterno derrotado?...

Camões

Também não temos glória alguma na nossa sala de troféus

O máximo que conseguimos mostrar ao mundo

Um negro angolano vestindo a nossa camisa

Descobrimos e colonizamos quase toda a terra conhecida

Fomos e voltamos por mares nunca antes navegado:

Mas no futebol somos presa fácil para qualquer Adamastor mais atrevido...

Goethe

Sei que as chuteiras sujas de um jogador frio

Nada representam ao espetáculo

Mas como saber o limite do céu e do inferno

Sem antes passarmos pelos desafios da terra?

Erguemos a taça por três vezes

Nossos imperadores comandaram nossas estratégias

O mundo se encantava com Puskas

E viramos vilões e campeões pela objetividade…

A “Laranja Mecânica” de Cruyff e companhia

Bailava em terras alemãs

Mas o nosso Kaiser varreu o palco

E coube a Gerd Mueller aniquilar os cítricos…

A festa estava armada para os italianos

Porém coube a Matheus fazer a lambança

Sempre discretamente, como nos cabe…

Sei que as chuteiras sujas de um jogador frio

Nada representam ao espetáculo:

Todavia, somos tricampeões mundiais...

Shakespeare

Dizem que foram os africanos que inventaram o futebol

Não me importo a quem fosse dado tal invento

Desde que deixassem a Inglaterra em paz

Com o nosso único triunfo sobre todos…

Muitas foram às contestações e críticas

Fomos nós que patenteamos este esporte

É justo que sejamos

Ao menos uma vez campeão…

Foi digno à Majestade ver Bob Moore erguer a taça

Mesmo sabendo que era apenas aparência

Deixem-nos em paz com a nossa enlouquecida conquista

Fomos nós que inventamos este esporte

Bola e pé...

Cervantes

Sonhar

Sonhar

E sonhar

Deixem-nos sonhar...

Para os espanhóis

A “Fúria” sempre moverá moinhos de vento

Lutará com quantos vier pela frente

Abaterá a todos, mesmo que a derrota seja flagrante…

Sonhar

Sonhar

E sonhar

Deixem-nos sonhar...

A próxima vitória

Sei

Será nossa...

Dante

Tão fanático quanto o sangue italiano

Apenas a idéia em atingir dimensões desconhecidas...

As batalhas que travamos em todos os campos

Nos puseram nas vitrines dos perseguidos

O nosso Paolo Rossi visitou o inferno

Pagou todos os pecados no ostracismo

E logo após, ganhou o céu na Espanha como artilheiro…

Não

Não conheço sangue mais latino que o italiano

Somos apenas tricampeões mundiais

Por obra de um pênalti chutado às nuvens por Roberto Baggio

Graças a Deus, ou ao Diabo...

Não

Não existe povo mais fanático pelo calcio...

Todos os participantes da mesa redonda erguem seus copos ou suas taças e brindam...

Gregório de Matos (cachaça)

À merda a todos os dirigentes do futebol...

Dante (vinho tinto)

À merda aos cardeais do futebol...

Baudelaire (champanha)

À merda às heranças do futebol...

Shakespeare (cerveja)

À merda às brigas pelo futebol...

Goethe (chope)

À merda e ao diabo o futebol...

Cervantes (vinho)

À merda aos sonhos do futebol...

Camões (bagaceira)

À merda aos descobridores do futebol...

Dostoievski (vodka)

À merda aos sofredores do futebol...

O autor

Peço desculpas à Celeste Olímpica, a Diego Maradona, a Kempes e aos demais esquecidos nestes versos, que tanto brilharam pelos gloriosos estádios de futebol. O sonho foi do poeta Neu e não posso adulterá-lo. Fica aqui o meu registro.