Pode ser aquele maluco...

Pode ser aquele maluco que vivia sendo perseguido por vampiros e acabou internado num hospício público...

Na madrugada coberta de nevoeiro

Você corria das sombras de velhos vampiros

Que o cercavam nas vielas escuras

À busca de seu jovem sangue de mancebo

Para refazerem seus corpos, já deteriorados de sangue contaminado…

Como surgindo do nada

Dom Pedro 2º lhe cobriu com sua capa misteriosa

E o levou, voando com suas asas de águia

Por rios, e, depois por encostas nas serras

E durante o vôo lhe falou de suas orquídeas raras

Das suas bromélias

E da intenção de fundar um Jardim Botânico...

Já eram três horas da manhã

Seu quarto rangia e tremia

Muitos objetos trocavam de lugar

Num balé clássico: “Cisnes Negros”

Você brincava com espadas e com revólver

A luz se acendia e se apagava sozinha

Ritmo dos vaga-lumes dos centros urbanos

Discos emprestados voavam pela janela

E no ar se confundiam com discos-voadores

Luminosos e luminárias…

Nem mesmo o criado-mudo parava no seu lugar

Caminhava por suas mãos

Rumo ao abismo

E voava, flutuando num céu sem palavras...

Lá embaixo, uma sirene ensurdecedora

Homens de branco com camisas estranhas

Escalaram o prédio pelo elevador de serviço…

Seus lábios espumavam sexo

Seus olhos pareciam calidoscópio

A porta se abriu

E uma enorme seringa

E uma enorme agulha

Seu frágil braço e

Uma só picada

Adeus!

E até breve!...

Não

Creio que não fora o fugitivo dos vampiros...