A Praça Paris

A PRAÇA PARIS

Sempre que volto ao Rio de Janeiro, detenho-me longo tempo sentado na Praça Paris e deixo o sentimento e a emoção viajarem.. Era ali que, em 1960, assim que cheguei do Maranhão, em busca do meu sonho de ser feliz na cidade grande, todos os dias, no caminho entre a Rua Riachuelo e o Restaurante Calabouço, onde fazia as refeições, eu ficava sentado um bom tempo, ouvindo as músicas que vinham dos aparelhos de som da Mesbla, na Rua do Passeio, músicas românticas que me enlevavam. Era a alma do futuro poeta que buscava o seu Parnaso? Talvez. Mas o certo é que a Praça Paris foi, durante um ano, por 30 minutos diários, o meu doce e romântico aconchego. Chegava a hora do almoço e eu ia embora, mas o sonho de amor ia comigo. Sempre.

Em 1966, deixei o Rio de Janeiro e andei por muitas estradas. Nas minhas voltas, algumas vezes me sentei na Praça Paris, e algumas vezes, de novo tão só como em 1960, mas sempre restituído de alma ao jovem sonhador de 18 anos, recém-chegado à cidade grande...

Na última vez que fui ao Rio de Janeiro, em 1978, acompanhado da minha esposa Fernanda, não deixei de cumprir o ritual antigo. E como o ritual exige que eu me faça acompanhar apenas das minhas lembranças, deixei a mulher no hotel, procurei a Praça Paris e lá me sentei.

Não existe mais a Mesbla na Rua do Passeio, não existem mais os sons das musicas de antigamente. Depois de 47 anos e ter visto nascer e morrer tantos sonhos de amor em tantas Praças Paris da minha vida, estou na Praça Paris, do Rio de Janeiro, entregue à releitura dos meus amores e desamores. E foram tantos!...

Entardeceu. O dia entardece, a vida entardece. Despeço-me da Praça Paris de 2008, mas não me despeço do jovem sonhador de 1960.

Pois o velho poeta de cabelos brancos não duvida de que, se a qualquer momento, a vida o hostilizar de novo com a crueza da solidão, o jovem sonhador voltará a sentar-se na sua Praça Paris, ainda que esteja a muitos quilômetros de distância do Rio de Janeiro.