MISTERIOSA MULHER.
Eu quero contigo estar, ó mulher misteriosa!
Eu desejo me embriagar na tua doce simpatia.
Deixa-me, por um instante, navegar os teus olhos perdidamente verdes?
Sonho que tu és o meu sonho, mas em vigília deparo-me com a tua dura realidade.
Tu és carne pronta a saciar a minha famélica fome devoradora.
Mensurarei o teu corpo santo e, com as medidas fulminantes dos meus olhares, devorar-te-ei horizontalmente e santamente.
Às vezes, eu percorro as tuas mãos com medidos cuidados, possuindo-te como corola aberta ao prazer.
Envolve-me para a eternidade com o teu perfume, depositando-me no sepulcro rubro do teu coração e na cruz santa dos teus braços.
Hei de me alimentar em tuas artérias e vértebras, numa antropofagia perdida de amor.
Quero matar outra vez a minha fome de ti sem saciar-me, para repetir esse gesto sempre famélico.
Alma alada, trânsfuga mulher, em teus cabelos gemados eu me enleio e me emaranho; desmanchando-os entre os meus dedos e provocando-te delírios sensuais.
O teu corpo tem caminhos de lua e sucos de maçã.
Oh selvagem púbis!
Depositário de castanha despenteada.
Túmulo sacrossanto de amor, o último talvegue escondido no vértice das tuas coxas.
Ardente é o teu fogo, de cujo rubor ensandece e prostram homens e demiurgos, satisfazendo os mais ousados prazeres.
Fantasia é a tua boca, flor ornada por dois parênteses apertados, imitando a violeta rubra e silvestre.