UM ENSAIO DE SAUDADES
Loirinha,
Do inexpugnável horizonte se desprende uma branca gaivota solitária, ela vem planando suavemente sobre o mar na linha desse mesmo horizonte.
Por um instante, eu te imagino nela voando em minha direção.
Blandiciosa ilusão, pois que agora se avizinha um crepúsculo multicolorido, prenunciando o atracar silencioso da noite, e assim, essa mesma gaivota solitária cisma em bicar as minhas doridas saudades de ti.
Em ato contínuo - as estrelas principiam a tremeluzir na lousa escura do céu, sem querer, agora me chega uma profunda saudade de ti cheia de ventos e beijos.
Nesta noite vazia povoa-me uma tristeza de dá dó, e assim, sinto-me só como as estrelas que à distância me expiam.
Novamente a miragem está de volta e, ensimesmado, eu penso ver-te nelas.
Hoje me sinto profundamente triste com estes olhos velhos e cansados, pois o lenitivo para essa minha tristeza sempre foram os teus beijos e o carinho suave das tuas mãos brancas e macias.
Já se faz madrugada, altas horas da noite e, nessa doída solidão, percebo que estou limitado pelas quatro paredes de meu quarto, onde também estão várias coisas quietas que nada me dizem.
Sem a tua presença e na hora aprazada pelo cansaço eu tento adormecer, mas o meu corpo sente a necessidade do teu calor.
Mantenho os meus pensamentos em ti, caio silente como criança manhosa num soluço abafado, implorando pelo teu cheiro de mulher, enfim um anjo desertor me transporta para o mundo dos sonhos.
Sinto que o meu espírito vagou pelas planícies dos sonhos e, aturdido pela inconsciência, procurava-te dentro desse mundo incompreensível.
Amanhece.
A tua lembrança gostosa me persegue com os primeiros albores do dia.
Novamente a realidade me assusta, pois tenho de aceitar a tua ausência, e assim, eu fico exilado dentro de mim mesmo, sem a tua presença linda, magnífica e desejável.
Eu sou assim mesmo, triste, pois ainda pouco vim dos teus braços, e eu que te beijei tantas vezes debaixo desse mesmo céu.