PALAVRAS SOLTAS
Entro de mansinho no teu quarto crescente...
Sei que fechaste a porta, e adivinho a tua busca, no bolso mais escondido da tua alma, pela chave do "nosso" diário. É um diário secreto, que exige chave secreta, ciosas cautelas, papel de pele, pena de penas...
Abres o teu diário e, da janela, lês o meu, mesmo ao alcance dum respirar, dum decalcar de meridianos, trópicos... não importa, o espaço é invenção no nosso diário, agora um, em dança de páginas coladas...
Fecho os olhos e dispo-te as palavras, na penumbra... Sorvo os teus desejos, sirvo-me em delícias, nuas...
Beijo-te as palavras, que me penetram, me preenchem, me transmitem acordes que comandam a letra da nossa canção...
Cantas-me serenatas, enredas-me em capítulos, eternizas em mim a leitura dum diário ousado, dedilhas, página por página, sensações dum livro novo, acabado de comprar...
E lês-me, em encantos de mil e uma noites, e eu leio-te, em cantos de bravas epopeias... em que há sempre um cavaleiro andante, a cavalgar coragens e paixões, uma dama em vestes de vento e desejos... e bandos de palavras, em migração solta, que roçam moinhos de vento e deixam vestígios quentes nas velas que rodam, rodam...