Emoções desenfreadas

Prólogo: “Sempre que se fala em emoções, imediatamente faz-se ligação com algo passional, intempestivo, perturbador e até proibido. Devido às tradições culturais, aos credos, seitas ou religiões, emoção é sinônimo de intemperança, paixão, descontrole, perigo e, por incrível que pareça, em alguns casos, sujeira.” (SIC). – (Eda Cecília Marini –Terapeuta e espiritualista)

Como regra geral, em nossos encontros e desencontros, amores errantes ou ordeiros, após intensos tormentos, maldade e desolação, abandonos ou esquecimentos; os obstáculos impeditivos são removidos e o amor vence.

Podemos até comparar com as novelas a que assistimos nas televisões do mundo inteiro. Mudam-se os idiomas, os enredos, tramas e cenários, mas o final é sempre feliz. Tudo se resolve nos três últimos capítulos e todos aureolados de emoções fortes e desenfreadas.

Eu aconselho às pessoas a enveredarem pelo caminho da conquista do prazer sem receio da culpa caso queiram compreender, de fato, o real significado de uma emoção autêntica, imensurável, sem lindes, avassaladora, desenfreada na acepção da palavra.

Busquem uma satisfação interior sem o alardeador estímulo das drogas, com a disciplina sublimada, e lhes garanto uma real emoção.

Leiam o que certo dia eu escrevi em um guardanapo, após um lanche, na Praça da Bandeira, sob um sol inclemente de um verão tórrido. Nessa ocasião eu estava insano, febril, anormalmente doido o suficiente para escrever pensando em quem não consegue ao menos me enxergar, mesmo sendo capaz e adorável musa inspiradora.

Como um louco lúcido considerado misterioso e tão estranho quanto um bicho-papão, fui capaz de escrever:

De tuas entranhas retirei delicado o teu gosto.

Dos teus olhos vi o brilho do forte desejo ameno.

De tua boca ouvi o gemido súplice do anseio.

De tua pele senti o porejar do suor perfumado.

Na alcova devassei tuas intimidades ouvindo uníssonos

nossos corações como aplausos pelo nosso desempenho.

Pela fresta da janela o sol radiante nos convidava sorrindo

ofertando-nos seu calor complacente pela dádiva divina.

De minhas mãos retiraste os mais delicados afagos. De minha boca sorveste beijos devassos, íntimos, e ouviste os sutis suspiros de contentamentos. De meu corpo pudeste sentir os tremores do acme do gozo infinito. De minha voz sussurros roucos foram articulados como os alvissareiros suspiros e promessas de um amor sem-fim.

Estruturo palavras em minha ocupação diária de plasmar sonhos no papel sem cor. Às vezes, eu fico a acreditar que um poema de amor rabiscado, às pressas, pode ser capaz de reinventar a vida, dar cor aos pálidos e pecaminosos desejos carnais. Qual ledo engano!

Trago-te a fogo desenhado na memória. São lembranças fortes e inapagáveis. Em quaisquer estações do ano, dias, noites e madrugadas chuvosas quedo-me, em sonhos, tal qual febre rara a percorrer os caminhos estreitos e obscuros, tentando, pelos devaneios, conhecer e devassar frestas, sulcos, dobras da pele nunca dantes exploradas.

Ao chegar ao fruto maduro proibido, cuja posse outro detém, após muito pelejar, provando ser possível a conquista desgastante e sofrida só em sonhos, enfim, desfaz-se o relicário paraíso imaginário de minha redenção entre as brumas sulfurosas das emoções desenfreadas de minha nefasta solidão.