BRANCOS LÍRIOS SOBRE O DESERTO
 

"A realidade é o gume cortante da duração, duração do instante que foge de você, foge de mim, do instante que deixamos escapar, a realidade é a pena que sentem os meus olhos de jamais poder ver os seus, por detrás daquela fumacinha que sobe da sua chávena de chá..."


Hoje, quando a minha nuvem se desfez eu vim caindo lentamente, aí lembrei que você me acusou de viver no mundo da lua. Uma acusação muito séria, você disse. E ainda me desafiou a negar tal afirmação, a dizer que não era verdade. Mas infelizmente é toda a verdade desde que lembro de estar nesta vida. "Um nunca chegar e um nunca parar de ir" parece ser também uma forma de definir pessoas que não conseguem se ver presas a nada, como se o fato de fazer parte as impedisse de respirar plenamente, fazer parte sendo o diluir-se no imenso mar anônimo e perecer sufocadas no próprio casulo. E o encontro de seres feitos desse barro resulta num interessante jogo de constante procura e escorregadias fugas, sem regras, sem previsões, sem nunca saber quando, como e quanto é preciso beber do veneno embriagador que mantém acesa a vontade de se tocar. Um toque muitas vezes dolorido, ansioso, triste na sua incompleta forma, mas sempre uma vertigem, uma loucura sem fim de céus chovendo brancos lírios na aridez de deserto das nossas almas. Espero que tenhas gostado de receber o que te enviei. Terá sido muito tarde ou nunca teria sido a hora? Ah, as horas em que podíamos ter sido um com o outro... e agora este silêncio... brancas velas estariam sobre nós agora? ou ficaram numa praia qualquer da tua existência? Mas vale a intenção e esta é vasta, ampla, até perder de vista...É a intenção repleta de vontades bastante concretas cuja realização eu ainda não descartei...
tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 01/07/2008
Reeditado em 08/10/2008
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