Insetos em decadência

Onde andas meu fantasma? Procuro por tua sombra em toda parte. Hoje tua sombra se mistura, hoje não te reconheço mais. Destruídas as asas que te permitia planar por sobre minha cabeça, agora não passas de um inseto que rasteja. Aliás, nem procuro mais por tua sombra. Tua presença se dilacerou entre tantos outros já dilacerados. Agora sei que não passavas de um encantamento. Ora, se não era um fantasma criado à minha semelhança? Certamente sou, e por muito tempo ainda serei: um fantasma irritante, que vive a proclamar um caminho a outros insetos também em decadência. Mas é impossível estar enganado sobre esse poder terrível: o duplo que é sempre um fantasma, jamais se desfigura por completo. O encontro com o terrível, não sei se pode ser evitado. Que venham os fantasmas, que venhas tu mais uma vez, com sua foice afiada! Venhas, inseto maldito! Não sentirei culpa em arrancar suas vísceras, ainda que doa dilacerar-me pouco a pouco.

troclone
Enviado por troclone em 24/06/2008
Código do texto: T1049296
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