A alma do carpinteiro

nota explicativa:um dia ,ao chegar á casinha em Nova Friburgo,deparei com a mesinha branca jogada entre entulhos de obra.

meditei...

Mesinha empoeirada,madeira tosca,esquecida no canto do depósito.

Pobre objeto de traços simples que esperava,pela sua inutilidade,a sentença final de destruição à fogo ou a rudes golpes de impiedoso carrasco...Acaricio sua lisa superfície,observo as impressões,os desenhos do vegetal imolado.Admiro-me ao observar as peças unidas,firmemente,qual irmandade inseparável...Contemplo o cenário de abandono,sinto-me conduzido à época distante...

Ouço o saudoso lamento de personagens de priscas eras.Angústia

aprisionada por inúmeras décadas lança as suas últimas fôrças para se libertar,com seu canto lamuriento,na vontade de reviver momentos felizes.

Meu Deus!Quanta vibração contida em anônimo objeto...

A ausência do brilho consumido que foi pelo tempo,não mais produz os alegres reflexos da juventude...Vultos curvados em profunda melancolia,retornam consternados com a prisão perpétua de seus passados.Percebi a lei inexorável do tempo.

Onde estará o autor de tal obra?E a alma do carpinteiro?...

Lembro-me,quando ,ainda no céu,a lua emitia os últimos raios na madrugada ,ele chegava, discretamente,trazendo, em seu dorso,o feixe de madeirame.Ao executar o trabalho simplório,entoava alegre cantiga do roçal acompanhado pela musicalidade do serrote e da passarada...

Descia eu das alturas filosofais em busca da intelectualidade transcendente e saboreava a simplicidade dos sábios...

À você,meu bondosos sogro José ,o carpinteiro...