Saudade de você

Prólogo: trata-se de uma homenagem a um alguém que fez da terra o seu palco e de um pedacinho do céu o seu bosque encantado, universo de lonas pequeninas e sonhos imensuráveis azuis.

Saudade e Lembrança... não são sinônimos,

não detêm idéias iguais, são diferentes no sentir.

Lembrança é coisa da mente, da memória, faz alguém viajar ao encontro da pessoa querida e necessária para alimentar a fome da saudade. Ah! Posso garantir que saudade é força da alma que nos faz bendizer o dia que conhecemos ou tivemos a atenção, a sublime lembrança de alguém muito especial.

Lembranças surgem com um perfume, um gesto, uma palavra, uma música... ou quando vislumbramos alguém parecido com a pessoa que queremos justa e merecidamente idolatrar, mesmo que seja de modo errático, por mérito demonstrado e comprovado anseio virtual.

A saudade aparece isolada em nossa alma. Sozinha, emerge do fundo do peito onde é guardada com carinho fazendo-nos fantoches a seu bel-prazer. Faz-nos ver um sorriso espontâneo que não mais vemos porque a amiga de cabelos revoltos, com um ar de sílfide, de divindade aérea, vaporosa, que asperge perfume de entre as mais belas pernas, adquiriu asas divinas e se foi leve e solta ao vento benfazejo e murmurante.

As lembranças nem sempre são boas, mas dessa menina-mulher não se poderá dizer que lembrar dela seja algo ruim. Ela é discreta, sonha... e, igual a todo ser vivente, faz fantasias criando devaneios possíveis de se realizar, algo belo de se planejar e fazer.

Toda saudade é bem-avinda porque é sempre boa. Mesmo quando dói, não se apaga, mesmo que outra pessoa tente ocupar o lugar, vazio há muito tempo, não preenchido pelas exigências pessoais de quem imagina haver a possibilidade de ser perfeito.

A saudade pode coexistir com um novo amor, sem machucá-lo, sem desrespeitar o lugar sagrado conquistado com a força mais antiga, renovadora, que brilha e rebrilha mesmo sem ter uma fonte de luz natural. A luz da saudade é quente, é originária do recanto mais recôndito da alma flamejante fazendo surgirem forças revigorantes.

Lembrança é sempre de algo real, de um lugar, uma época, um acontecimento marcante, um beijo imaginado, prometido por um olhar lúbrico de uma pessoa querida. Saudade pode ser do que não houve, de uma possibilidade, de um desejo não realizado, de uma trama bem urdida, de uma cumplicidade angelical, de lábios carmins jamais tocados, da pele macia consumida em sonhos doidos, obsessivos.

Saudade é coisa dos poetas sonhadores, pautada em rimas e melodias; vontade de ver outra pessoa e segundo os visionários teria outro nome, seria um anseio sublimado com desejos restauradores.

Lembrança pode ser sem som, sem melodia, talvez nem se perceba algum ruído, pode não doer ou doer em demasia. Já a saudade, embora não resista, sobrevive sem o som musicado da voz doce, aveludada, do sorriso franco e cativante, do cumprimento, mesmo cerimonioso: “Bom dia meu senhor e amigo mais querido...”.

A lembrança vence a morte e respeita um espaço preenchido,

mas se conforma com a ausência e respeita as convenções sociais.

A saudade ignora a morte, vence distâncias, barreiras e preconceitos sociais, econômicos e religiosos quando mais sentida a volúpia carnal.

A lembrança aceita nosso comando, no vaivém da vida material sofrida quando desejamos e temos disciplina forte para isso. A saudade é irreverente, anarquista quão este autor de poesias insossas, difusas, impublicáveis, mal-acabadas e incompreensíveis, quando resolve de forma silente, pertinaz, fazer sua morada no coração das solitárias que jazem nas pedras e tumbas frias do esquecimento, na perene solidão de momentos indesejados, crudelíssimos e sofridos.

Se eu pudesse e você quisesse eu mudaria o seu nome. Seria saudade, pois não sei se estou certo ou errado, mas é fato que sempre estou saudoso de você, de seu sorriso e olhar matreiro, perfume inebriante e voz melodiosa. Sinto intensa saudade de você.