O quartinho
O quartinho
Ele ainda era o seu amor.
O único que tivera e que em segredo
ainda desejava.
Traiçoeiro coração
Tem caminhos tortuosos.
Uma curva errada e olha aí a distancia...
Mas só percebemos quando tudo já vai tão longe...
Às vezes não dá pra voltar.
Sem saída, o jeito então é se aventurar;
Por esses novos caminhos
Onde o vento leva as migalhas de pão
Pra nos machucar.
Ferida, quis esquecê-lo.
(ele não a queria mais)
Tentou viver um dia de cada vez.
Não conseguiu.
Fez pra ele, então um quartinho.
Bem arrumadinho lá nos fundos;
em seu coração.
E tocou a vida.
Mas quando sentia saudades...
Colocava o disco pra tocar,
Ouvia aquela música
E como encanto a porta se abria.
Ali, visitava suas lembranças.
E logo que a música acabava
Enxugava rápido a breve lágrima,
Respirava fundo
E recomeçava.
Trilhando a nova estrada que fez.
E assim passaram-se vinte anos.
O tempo não espera.
Quanto mais distante seguia em seu caminho
Mas constantes eram as visitas
Àquele quartinho.
Enfim um dia
Tomada de uma infinita saudade
E de um arrependimento das coisas
Que deveriam ter sido e não foram...
Tomada de um medo aterrador
E de uma solidão infame...
Colocou aquela música
Repetindo-a várias vezes.
Sentou-se num cantinho do quarto
Não enxugou as lágrimas.
Só chorou.
E chorou muito.
Até que cansou.
E dormiu.
Não mais acordou.
Adriana Kairos