O quartinho

O quartinho

Ele ainda era o seu amor.

O único que tivera e que em segredo

ainda desejava.

Traiçoeiro coração

Tem caminhos tortuosos.

Uma curva errada e olha aí a distancia...

Mas só percebemos quando tudo já vai tão longe...

Às vezes não dá pra voltar.

Sem saída, o jeito então é se aventurar;

Por esses novos caminhos

Onde o vento leva as migalhas de pão

Pra nos machucar.

Ferida, quis esquecê-lo.

(ele não a queria mais)

Tentou viver um dia de cada vez.

Não conseguiu.

Fez pra ele, então um quartinho.

Bem arrumadinho lá nos fundos;

em seu coração.

E tocou a vida.

Mas quando sentia saudades...

Colocava o disco pra tocar,

Ouvia aquela música

E como encanto a porta se abria.

Ali, visitava suas lembranças.

E logo que a música acabava

Enxugava rápido a breve lágrima,

Respirava fundo

E recomeçava.

Trilhando a nova estrada que fez.

E assim passaram-se vinte anos.

O tempo não espera.

Quanto mais distante seguia em seu caminho

Mas constantes eram as visitas

Àquele quartinho.

Enfim um dia

Tomada de uma infinita saudade

E de um arrependimento das coisas

Que deveriam ter sido e não foram...

Tomada de um medo aterrador

E de uma solidão infame...

Colocou aquela música

Repetindo-a várias vezes.

Sentou-se num cantinho do quarto

Não enxugou as lágrimas.

Só chorou.

E chorou muito.

Até que cansou.

E dormiu.

Não mais acordou.

Adriana Kairos

Adriana Kairos
Enviado por Adriana Kairos em 23/06/2008
Reeditado em 04/10/2008
Código do texto: T1047333
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