[Tarde Muda]

A tarde de quase inverno caiu, passou, e levou com ela mais um dia da minha vida. As sombras se avultaram na rua silenciosa, e uma lua gelada surgiu sobre a quietude do lago.

Nenhuma palavra me chegou nesse entardecer de hoje. Nem uma sequer! Os que me devem palavras, não sabendo dos punhais gelados com que me matam, praticaram contra mim um conluio de silêncios.

Tenho de aceitar os fatos: há no mundo uma maquinação de silêncios, eu me vejo só, e a tarde, para meu escabreio, para minha cisma do tempo fugitivo, fala, mas sem palavras, pois é muda...

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[Penas do Desterro, 18 de junho de 2008]