[Perdendo-te]
Quando eu te conheci, que sorte a minha, rasgou-se o véu da realidade, e então, os meus olhos te viram, e então, o meu corpo teve a ventura de experimentar as penas do amor!
Tremo só de pensar que, se eu não houvera te encontrado, eu teria morrido sem conhecer o amor, sem saber a fruição das dores do amor! E morrer assim é morrer de uma anestesia que durou uma vida inteira!
Quando eu te perdi, não pude praguejar e nem beber demais por ter te perdido para outro, não me deste nem mesmo o mórbido prazer desse gosto amargo!
Basto-me, não careço de ombros amigos — se bebo, ergo o copo no ar vazio, e brindo sozinho — é a síntese da autoflagelação: sofro a inominável dor de ter te perdido apenas para mim mesmo — para canga da minha fraqueza!
Perdendo-te, perdi-me de mim.
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[Penas do Desterro, 18 de junho de 2008]