[Capturas do Tempo: Da Cor dos Olhos Meus]
A cor dos meus olhos: foi uma moça apaixonada que os definiu como castanhos esverdeados... e eu, muito ingênuo, acreditei! O bom siso diz que não se deve nunca acreditar em mulher apaixonada, é perigoso... mulheres apaixonadas são capazes de cada coisa, cada coisa tão venenosa que a gente nem imagina! Já vivi, já vi, já experimentei! Um 'cado dos meus cabelos prateados vem dessas artes, desses venenos!
Os meus olhos são castanhos só... o verde é a mentira solerte que eu não aprendi a contar, e essa, quem é que não sabe, fica mesmo é nos olhos - alguém duvida? Carece só de me olhar assim, de pertinho...
E o que pode importar a cor dos meus olhos, quando eu já estou indo embora? É tarde... eu e o meu burro carregado das tralhas das garimpagens por este mundão, seguimos por um areal branco, e vamos sumindo, sumindo... os meus olhos estão cansados, não sabem mais de outros rumos, senão o do poente. O oeste é o meu norte, disse o poeta, e eu concordo, ah se concordo!
Entretanto, sinto ainda forças interiores... sei que é um aviso: um perfume de mulher poderia me espertar o brilho dos olhos, e até me tirar do rumo... tenho de ficar atento na minha preparação da morte!
[Penas do Desterro, 17 de junho de 2008]