POETAS
POETAS
Tão mal são às vezes compreendidos os poetas, pelas pessoas comuns.
O poeta tem dias de apego e outros de libertação. A dolorosa essência do poeta é mesmo essa dicotomia. A pluralidade de desejos, a inconstância de ser, estar e sentir, na incansável busca da união com o TODO, porque menos do que isso é a insatisfação do poeta.
O poeta ora abre as asas ao sol ora se ensopa de chuva, ora sorve o ar que respira ora sufoca em recolhimento. Por vezes, é fuga. Veste-se de distância e monta na garupa do vento. Tanto se deseja solto como uma gaivota, como se deseja aprisionado, refém rendido ao amor.
Hoje, ele anseia ser apenas azul rasgando o Infinito; amanhã, ele é fogo, se veste de rubro e deixa vibrar a carne em arroubos de paixão. Hoje, ele é diamante, duro e impenetrável; amanhã, será cristal permeável a todos os sentimentos. Hoje, o poeta é mesa farta, enfeitada de toalha vermelha e rosas desabrochando em orgasmos multicor, onde todo se entrega, corpo e alma, se saciando em ardentes beijos e degustando as doces iguarias do Amor. Amanhã, ele se compraz na angústia da fome e deixa crescer o seu desejo até que ele todo o invada, até que rebente como um balão, libertando estrelas em arroubos de paixão!
E é nesta incoerência de sua alma atormentada que ele vai destilando os seus versos.
Ora espírito ora carne, por vezes ambos, mas sempre respirando poesia. Só assim, o poeta consegue conviver com a sua (ora gostosa ora dolorosa) incoerente e utópica essência.