A PEDRA QUE NOS FOI ATIRADA
No meio do nosso caminho não havia uma pedra como disse o poeta-maior. Ela veio do lado, literalmente do lado, atirada irresponsavelmente contra nossas vidas, desrespeitando ostensivamente o imperativo da placa. Nunca me esquecerei daquela pedra irresponsável que trouxe riscos e assustou nossa saúde; provocou feridas indizíveis e deixou cicatrizes invisíveis. No meio do caminho não havia uma pedra, mas ela surgiu como se do nada e veio ao nosso encontro lateral para perturbar nossos destinos. Veio abrupta, violenta, seguida do ranger da atrição de pneumáticos com o chão de breu de petróleo, do impacto metálico, de esculturas de ferragens retorcidas, de cacos de vidros e acrílicos, de gritos involuntários, de susto nos olhos. Veio, sem que se saiba de onde, como um castigo vindo do desconhecido, enviado por um travesso ente divino (talvez Dioniso, o grego, ou Baco, o romano, deuses do vinho), travestido de menino, moleque sapeca sem nenhum tino. Veio como um tufão que demole formas e dilacera almas. E tentou se eximir da culpa. E até tentou se fazer de vítima... Ah! Quantas pedras existem por este vasto planeta?! São muitas. São incontáveis. Muitas são irrecuperáveis e suas ações irreparáveis.