Linhas curvas e retas
Linhas curvas, Linhas retas.
Deus escreve sempre certo.
Gaudi e Niemeyer construiram coisas lindas por linhas curvas.
Quando eu tinha sete anos me deram um livro de presente
no Natal. Eu queria uma bola. Sonhava com uma bola de capotão.
Pude ler muitos clássicos antes dos dezoito anos, mas nunca aprendi a cabecear com os olhos abertos. Diácho.
Acho lindo quando o centro-avante emerge do meio da confusão
e voa lá no alto como um golfinho e coloca a bola onde as mãos do goleiro não alcançam. Acho lindo, mesmo quando é contra o meu time.
Aquela professora caruda tinha que ter me deixado de fora do canto Orfeônico. Eu era apenas um menino querendo cantar com os amigos
na festa anual.
Achou que eu desafinei no teste, quando cantei Gatinha Manhosa.
Engoli sêco. Nunca mais cantei.
Nesta mesma época o Piáu, um rapaz que morreu na estrada viajando de carona pelo Brasil, me chamou e disse escuta isso! Tinha acabado de comprar o novo LP dos Beatles, Revolver. Passei a curtir mais ouvir do que cantar . Desencantei. Naquele tempo isso me ajudou a digerir o sentimento de rejeição.
Me curei mesmo do trauma da gatinha manhosa muito tempo depois quando comprei um Videokê.
Aí então cantei, cantei até não caber mais em mim. Quando me cansei, me curei.
Minha mãe sim, sabia das coisas. Teria ssido uma boa conselheira de carreira.Quando me deu o livro ao invés da bola de capotão, me deu de presente o amor às letras, às idéias e à poesia. Poesia que aquela professora de música me roubou por um longo tempo.
Hoje me emociono quando escrevo ou leio um belo poema de alguém ou quando ouço Mozart e de forma especial quando vejo o centro-avante voar como um golfinho.