O homem que queria morrer.
Estava lá, sentado na calçada do centro, a cabeça baixa.
Os olhos sem foco, perdidos em um lugar onde ninguém poderia alcançá-lo.
Não via as pessoas que ali circulavam, não sentia nada.
Nem frio nem calor, nem pressa nem calma, nem raiva.
Pediu-me um cigarro, quando eu vinha andando e por ele passava.
Lhe fiz a vontade e apressado ia embora, quando pediu-me um instante.
Parei, sem uma palavra, relutante...
- É... ninguém disse que seria fácil! -Disse o homem...
Eu:
-o quê?
Ele:
-Viver...
-Quando as lágrimas, de teus olhos tornam-se companheiras constantes.
E sente-se o pior dos homens, e desejas morrer.
E sente o frio se aproximando e vislumbra o abismo.
Aí então, entendes o que quero dizer.
O olhava perturbado, não entendi o que ele esperava que eu disse-se...
Fiquei em silêncio.
-Quando o monstro em frente de ti toma forma e te sufoca- continuava.
E as coisas não tem mais graça, a comida não tem gosto, as pessoas se tornam banais.
E a lembrança de tudo o que um dia foi feliz, é só um eco de um tempo que não voltará mais.
Então sente-se acuado, tem a certeza de que estás sozinho, e não vês nenhuma saída.
Pois é assim, meu amigo, que hoje eu me vejo.
É por isso que hoje, em verdade lhe digo, que não desejo mais a vida.
Olhava ao miserável a minha frente, com um pesar imenso
E, às suas angústias com a vida, como resposta, sustentei meu silêncio.
Não por omissão, mas por que não sabia dos seus fantasmas, embora agora me pergunta-se sobre isso.
Não o conhecia, tampouco quem, ou o que, fora a causa de sua dor.
Com um sorriso triste virei-me para ir embora e, como se lê-se minha dúvida, chamou-me e disse:
-Foi ele amigo, como sempre...
Foi o amor.
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